Patrícia: Viver Com Depressão É Como Viver Numa Caixa Fechada

Presa numa caixa invisível

Para Patrícia, a depressão era como estar trancada numa caixa sem janelas, sem som e sem saída.

"Eu me sentia dentro de uma caixa fechada e eu não conseguia sair, não conseguia gritar, não conseguia fazer nada."

A metáfora descreve não apenas o isolamento, mas também a impotência. Nada do que fizesse parecia aliviar o sufoco emocional em que vivia. A tristeza não era só tristeza — era uma angústia presa, silenciosa, que parecia não ter escapatória.

"Eu tinha muita raiva. Na verdade, eu chorava porque eu não podia fazer nada com essa raiva."

A dor não era apenas dela — era também julgada por quem a rodeava. Quando tentava falar do luto pela mãe, sentia-se culpada por estar longe. Quando tentava abrir o coração, ouvia respostas como: "Ah, eu também já perdi a minha mãe" ou "Foste tu que escolheste viver fora". Tudo parecia invalidar o que sentia.

"Tudo, tudo era culpa minha."

Quando o luto se transforma em raiva

A morte da mãe foi o ponto de rutura. Patrícia tentou manter o controlo, mas o chão desapareceu-lhe debaixo dos pés.

"Tudo começou com a morte da minha mãe. Eu perdi o chão. Eu pensei que tinha o controle, mas eu não tive."

Não teve tempo nem espaço para viver o luto. Estava longe, e o que era para ser um processo íntimo e doloroso transformou-se num ciclo de silêncio, culpa e mágoa. A tristeza virou-se para dentro e, sem conseguir ser expressa, transformou-se em raiva.

"É muito rápido a gente transformar uma tristeza numa raiva, numa fúria."

Essa fúria extravasava nas relações mais próximas. Em vez de chorar, Patrícia discutia. Era como se o sofrimento tivesse de sair por algum lado.

"Quando eu não chorava, eu discutia. E muitas vezes, eu descontava no meu marido. E ele não tinha nada a ver com isso."

Esse padrão repetia-se até ao ponto em que já não havia contenção emocional. O corpo e a mente colapsaram. E Patrícia pensou que talvez a única forma de parar a dor fosse desistir.

"Porque eu já... já pensei, já... já tentei suicídio."

Julgamento, incompreensão e silêncio

Poucas pessoas sabiam disso. O medo do julgamento era maior do que o impulso de pedir ajuda.

"Poucas pessoas também sabem da história, porque a julgar é muito fácil."

Quando tentava partilhar, encontrava conselhos vazios, espiritualizações forçadas, críticas ou simplificações. Ouvia coisas como: "É porque não tens Deus no coração", ou "Tens que te ocupar, vai fazer alguma coisa". Como se a dor pudesse ser resolvida com distração.

"Sempre que é para falar da mente, as pessoas não sabem. Falam: 'Vai procurar o que fazer'."

A sensação era de estar sozinha num mundo apressado, onde ninguém tinha tempo para realmente ouvir.

"As pessoas perguntam 'como estás?', e tu dizes 'não', mas ninguém ouve."

Patrícia passou a esconder-se atrás de desculpas físicas. Dizia que tinha dores, que estava doente. Mas no fundo, sabia que era o peso emocional que se tornava físico. A depressão começava a viver também no corpo.

"Parece que o corpo já não aguenta. A coluna baixa, as pernas ficam pesadas... É um cansaço que não é só físico."

O momento de escolher mudar

Depois de anos nesta prisão invisível, chegou um momento em que Patrícia decidiu que não podia continuar assim.

"Falei: 'Chega. Chega de ficar nessa tristeza. Eu gosto de fazer tanta coisa. Vou fazer'."

Queria um tratamento diferente, sem medicação, e decidiu procurar essa alternativa.

"Queria fazer um tratamento sem nenhum medicamento. Esforcei-me para tal."

Encontrou na nova abordagem um caminho possível — não fácil, mas possível. E sentiu que estava finalmente a recuperar algo que lhe tinha sido tirado: a capacidade de decidir, de sentir, de viver.

"Hoje consigo falar sem chorar. Há 5 anos atrás, se me perguntassem o que queria jantar, eu dizia 'tanto faz'. Não conseguia decidir nada."

Este vazio de vontade e energia era um dos sinais mais marcantes da sua depressão. Agora, sente que recuperou o ânimo, a iniciativa, a alegria de viver.

"Mudou tudo. Tenho mais vontade de fazer as coisas. Antes não tinha energia para nada."

A transformação foi gradual, mas houve um momento claro em que sentiu o clique interno: na quinta sessão, algo mudou.

"Na quinta sessão foi quando eu me senti bem mesmo, de não pensar em mais nada. E depois, foi só reforçar."

Cuidar também da mente

Patrícia sempre cuidou do corpo, da imagem. Mas durante anos, ignorou o que se passava dentro de si.

"Eu sempre fazia exercício, preocupava-me com a estética... Mas aqui dentro eu sempre deixei."

Hoje, sabe que cuidar da mente é tão importante como cuidar do corpo. Que não adianta parecer bem se por dentro está tudo em ruínas.

"Tem que cuidar da mente também. A gente não é só corpo."

Olha agora para o passado com compaixão, mas também com orgulho. Porque, apesar de tudo, não desistiu. Procurou ajuda. Quis mudar. E conseguiu.

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