Maria dos Anjos: Voltar a Viver Após 20 Anos de Depressão

Uma vida em suspenso

Durante 20 anos, Maria dos Anjos viveu dominada por uma depressão crónica que lhe roubou não apenas a energia e o ânimo, mas também a memória, a presença familiar e a identidade. Os dias arrastavam-se num ciclo constante de dor, isolamento e ajustes de medicação que apenas traziam alívio momentâneo.

"Eu tinha... estava a entrar numa crise, tinha de tomar alguma... tirar a medicação pouquinho porque já não aguentava e ter que fazer outro, outro ajustamento na medicação."

Com o passar do tempo, a vida de Maria foi-se encolhendo ao ponto de se reduzir às quatro paredes de casa. Já não importava se fazia sol ou chuva. Estar na rua, conviver, rir — tudo isso lhe parecia impossível.

"A minha rua era o meu quarto, era a minha cozinha, era o meu corredor... podia estar a sol, podia estar chuva, para mim não me importava porque eu não vinha à rua..."

O sofrimento físico era igualmente intenso. Dores no corpo, fadiga extrema, e uma tristeza profunda que a mantinha quase imóvel.

"Estava a sentir-me com muitas dores, muito em baixo... era sempre a cama."

A ansiedade social agravava tudo. Estar num local com várias pessoas causava-lhe aflição. Falar era um esforço. Vivia isolada, mesmo quando rodeada pela família.

"A maneira de estar num sítio com muitas pessoas, para mim é uma aflição imensa."

Dois anos apagados da memória

Entre os momentos mais marcantes do seu testemunho está a perda de memória — dois anos inteiros dos quais pouco ou nada recorda. Um vazio deixado pelo impacto da depressão.

"Eu tive dois anos praticamente que eu não sei... não sei o que é que se passou. Não sei como a miúda foi criada, não sei como fiz as coisas em casa, não me recordo."

Esta amnésia, provocada pelo stress extremo da doença, é apenas um reflexo da gravidade do estado em que Maria se encontrava. Sentia-se como se tivesse deixado de existir — e isso incluía também a incapacidade de estar emocionalmente disponível para a filha, algo que a marcou profundamente.

"Aquilo que nós mais pensamos é o que é que estamos aqui a fazer... era fácil desistir, era fácil não querer cá estar..."

No entanto, havia um laço que a impediu de desistir por completo: o amor pela filha. Esse vínculo foi a sua âncora durante os anos mais sombrios.

"Se não fosse a minha filha, eu não estava cá."

O virar de página

Depois de tanto tempo imersa na dor, Maria teve um momento de viragem. Encontrou finalmente um espaço onde sentiu alívio, onde começou a recuperar — não só os sentidos físicos, mas também a esperança e o prazer de estar viva.

"Quando se chega a um ponto como eu cheguei, não se tem alegria nem vontade de viver... quando eu entrei aqui dentro foi a melhor coisa do mundo."

Dormir sem medicação foi um dos primeiros sinais de mudança. Algo impensável durante duas décadas, tornou-se possível.

"Relaxava de tal maneira que conseguia dormir... sentia-me no céu. Eu nunca dormi sem medicação, 20 anos, nunca."

Essa nova tranquilidade refletiu-se também no corpo: menos agitação, menos tensão matinal, mais calma ao despertar.

"Aquela posição de dormir e acordar no mesmo sítio... não se mexer durante a noite, é uma sensação tão boa... os nervos a não estarem tão ativos de manhã."

A autoestima, antes inexistente, começou a surgir. E com ela, uma nova perceção de si.

"Saía daqui com uma autoestima enorme, em cima mesmo."

Maria descreve o processo como um renascimento emocional. Pela primeira vez em muitos anos, sentia-se bem consigo mesma, com os outros, e com o mundo. O que mais a surpreendeu foi a leveza com que passou a encarar o dia.

"Eu acordo de manhã e tenho uma música na mente, e canto aquela música... é sinal que estamos preparados para o dia que vem."

Uma nova forma de viver

Hoje, aos 50 anos, Maria sente que está finalmente a viver o que não viveu aos 30. Reconquistou o papel de mulher, mãe e esposa — não como uma obrigação, mas como uma experiência plena e real.

"Estou a fazer o que não fiz com 26. Estou-me a sentir mulher, esposa, mãe — coisa mais linda que a gente tem."

O processo também permitiu-lhe reduzir drasticamente a medicação, sentindo-se cada vez mais autónoma, mais dona da sua vida.

"A autoestima da pessoa vai melhorando… e faz com que comece a deixar a medicação e a sentir-se bem."

A recuperação das relações familiares foi, para Maria, o ponto mais comovente. O simples facto de poder estar com a filha e com o marido, com presença e afeto, tornou-se uma fonte de gratidão profunda.

"Agradeço por ter a minha filha à minha beira, por ter o meu marido..."

Por fim, deixa um conselho para quem se encontra no lugar onde ela esteve durante tantos anos:

"Não esperem tanto tempo. Antes de se meterem em antidepressivos, procurem outra ajuda."

Maria dos Anjos é hoje uma mulher que reencontrou a si mesma. A sua história mostra que, mesmo após anos de dor, é possível recomeçar — com esperança, com verdade e com alegria.

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