Andreia: Tinha Ataques de Pânico tão Fortes que Não se Reconhecia
A Jornada de Superação do Vício em Trabalho e o Reencontro com o Equilíbrio
A Experiência Avassaladora dos Ataques de Pânico
Andreia descreve os seus ataques de pânico com uma clareza perturbadora, detalhando a progressão de sintomas físicos e psicológicos que a deixavam completamente incapacitada. A intensidade destes episódios era tão avassaladora que ela perdia literalmente o controlo do seu corpo.
"Isto começa-me a arder, o coração dispara. Os pensamentos são: 'Está a dar-me uma coisa.' Passava tudo por mal-estar, depois começam os enjoos, as tonturas, começa... Mil e um sintomas e... 'Chamem-me o INEM, chamem-me o INEM que eu não estou bem.' Começam as luzes... Parece que a visão já não é a mesma. Já está aqui qualquer coisa a acontecer."
Esta descrição vívida ilustra a natureza multissensorial dos ataques de pânico, que afetam não apenas o sistema cardiovascular e respiratório, mas também a percepção visual, o equilíbrio e a cognição. Para Andreia, como para muitas pessoas que sofrem de ataques de pânico, a sensação de que algo catastrófico está a acontecer ao corpo é avassaladoramente real, levando a um medo intenso e ao desejo desesperado de ajuda médica imediata.
Quando o Corpo Perde o Controlo: A Manifestação Física Extrema
O que torna os ataques de pânico de Andreia particularmente severos é a forma como eles culminavam em manifestações físicas extremas, incluindo perda de consciência. Estes episódios eram tão intensos que ela literalmente não se reconhecia durante e após os mesmos.
"O meu corpo chega ao ponto de descarregar totalmente e eu desmaio. Ou melhor, eu evacuo, desmaio. Primeiro tenho uma descarga intestinal e depois desmaio automaticamente e venho a mim, mas quem está comigo diz que eu faço sons, que reviro os olhos, acho que é aflitivo para quem está comigo. Eu não me reconhecia."
Esta perda de controlo físico representa um dos aspectos mais traumáticos dos ataques de pânico severos. Para Andreia, a experiência ia além do sofrimento pessoal, pois ela estava consciente do impacto que os seus ataques tinham nas pessoas à sua volta. A descrição de que era "aflitivo para quem está comigo" revela uma camada adicional de angústia: a preocupação com o sofrimento que causava aos outros e possivelmente a vergonha associada a perder o controlo em público.
A afirmação "Eu não me reconhecia" é particularmente significativa, sugerindo uma profunda dissociação entre o seu senso de identidade e as manifestações físicas extremas que experimentava durante os ataques. Esta sensação de não se reconhecer pode ser interpretada tanto literalmente (não reconhecer o próprio comportamento durante os episódios) quanto metaforicamente (não reconhecer a pessoa em que se tinha transformado devido à condição).
O Ciclo Vicioso do Medo: Quando a Vida se Torna uma Prisão
Como é comum em casos de ataques de pânico recorrentes, Andreia desenvolveu comportamentos de evitação que começaram a limitar significativamente a sua vida. O medo de ter outro ataque tornou-se tão dominante que atividades quotidianas como conduzir tornaram-se fontes de ansiedade intensa.
"Eu queria sair para ir trabalhar e não conseguia. Porque ganhei medo ao carro, ao trânsito... Medo que me desse outro ataque... porque me tinha dado um recentemente. Porque eles são do género, tanto estou a conduzir e estou bem, como chego ao local e aquilo dispara assim... Não há, não há nenhum indicador de que aquilo vá acontecer."
Esta imprevisibilidade dos ataques é um dos aspectos mais debilitantes da perturbação de pânico. A incapacidade de prever quando um ataque ocorrerá cria um estado constante de hipervigilância e ansiedade antecipatória. Para Andreia, o facto de os ataques poderem ocorrer sem aviso prévio, mesmo durante atividades rotineiras como conduzir, amplificava o seu medo e reforçava os comportamentos de evitação.
O ciclo vicioso é claro: os ataques de pânico levam ao medo de ter mais ataques, o que por sua vez aumenta a ansiedade geral, criando condições propícias para novos ataques. Este padrão é extremamente comum em pessoas com perturbação de pânico e pode, como no caso de Andreia, levar a limitações significativas na mobilidade e na independência.
O Vício em Trabalho: Quando a Fuga se Torna um Problema
Um aspecto particularmente interessante do testemunho de Andreia é a sua identificação do vício em trabalho como um factor significativo no desenvolvimento dos seus problemas de saúde mental. Este padrão de comportamento, muitas vezes socialmente recompensado e até celebrado, tinha na verdade um impacto profundamente negativo no seu bem-estar.
"O meu problema é que sou viciada em trabalho. E quando cheguei cá, ainda estava mais viciada, ou melhor, ainda tinha mais trabalho do que o que tenho hoje, porque acho que viciada ainda continuo. E eu não tinha sábados, não tinha domingos, não tinha nada. Tinha trabalho, trabalho, trabalho, trabalho."
Esta descrição revela como o trabalho excessivo funcionava simultaneamente como uma causa e uma consequência dos seus problemas. Por um lado, o ritmo intenso de trabalho sem pausas para descanso ou socialização contribuía para o esgotamento físico e emocional que provavelmente exacerbava a sua ansiedade. Por outro lado, o trabalho também servia como uma forma de evitação, uma maneira de não enfrentar outros aspectos da vida que poderiam causar desconforto ou ansiedade.
O Isolamento Social: A Avestruz com a Cabeça na Terra
Uma consequência direta do vício em trabalho de Andreia foi o progressivo isolamento social. A metáfora que ela usa para descrever esta situação é particularmente reveladora.
"E, efetivamente, a parte social ficou toda de fora. Desapareceu da minha vida. E eu cheguei aqui a dizer que parecia uma avestruz. Que meti a cabeça na terra, pronto. E o trabalho era desculpa para tudo. E o trabalho não pode ser desculpa para tudo, mas era. A minha vida passou a ser isso: trabalho, trabalho."
A imagem da avestruz com a cabeça na terra ilustra perfeitamente a estratégia de evitação que Andreia tinha adotado. Ao focar-se exclusivamente no trabalho, ela podia evitar enfrentar outros aspectos da vida, incluindo possivelmente relacionamentos, emoções difíceis ou questões pessoais não resolvidas.
Este isolamento social, embora inicialmente possa ter parecido uma solução para evitar situações ansiogénicas, acabou por se tornar parte do problema. O isolamento social é um fator de risco bem estabelecido para problemas de saúde mental, incluindo ansiedade e depressão, criando um ciclo negativo onde o isolamento aumenta o sofrimento psicológico, que por sua vez reforça o desejo de isolamento.
A Exaustão Física e Emocional: Quando o Corpo Diz "Basta"
O ritmo insustentável de trabalho e a ansiedade crónica levaram Andreia a um estado de exaustão física e emocional. O pouco tempo livre que tinha era dedicado simplesmente a recuperar do esgotamento, sem espaço para atividades prazerosas ou significativas.
"Tempo livre era para descansar porque o corpo estava exausto."
Esta simples afirmação revela muito sobre o estado em que Andreia se encontrava antes de procurar ajuda. A vida tinha-se reduzido a trabalhar e recuperar do trabalho, um ciclo empobrecido que não deixava espaço para crescimento pessoal, prazer ou conexão com os outros.
Além disso, a medicação que estava a tomar para gerir os seus sintomas parecia estar a perder eficácia, sugerindo que a abordagem puramente farmacológica não estava a abordar as causas subjacentes dos seus problemas.
"Eu entrei aqui medicada. E, neste momento, não estou medicada. Mas entrei aqui medicada e dizia: 'A medicação não está a fazer efeito. Estou a ter todos os ataques possíveis e imaginários, aliás, estão-se a intensificar neste último mês'."
Esta intensificação dos ataques de pânico, mesmo com medicação, pode ser interpretada como um sinal de que o corpo e a mente de Andreia estavam a atingir um ponto de ruptura. Os mecanismos de compensação que tinha desenvolvido – trabalho excessivo, isolamento social, medicação – já não eram suficientes para conter o sofrimento subjacente.
O Encontro com a Esperança: Os Primeiros Passos na Clínica da Mente
A decisão de procurar ajuda na Clínica da Mente marcou um ponto de viragem na jornada de Andreia. Apesar do ceticismo inicial que muitas pessoas sentem em relação a novas abordagens terapêuticas, ela saiu da sua primeira consulta com um sentimento renovado de esperança.
"E saí daqui com a esperança de que podia, efetivamente, ser ajudada. E fui!"
Esta simples afirmação – "E fui!" – contém uma poderosa confirmação de que a esperança inicial de Andreia não foi em vão. A ajuda que procurava foi efetivamente encontrada, marcando o início de uma jornada de recuperação.
No entanto, Andreia também reconhece que a terapia não é uma solução mágica ou passiva. Ela compreendeu desde cedo que o processo de recuperação exigiria a sua participação ativa e um compromisso com a mudança pessoal.
"Eu acho que uma pessoa vem, e aqui dão-nos todas as ferramentas, mas ninguém pode mudar a nossa vida sem sermos nós próprios. E aí é que está o grande desafio. É mudarmos e conhecermo-nos a nós mesmos."
Esta perspectiva reflete uma compreensão madura do processo terapêutico como uma parceria, onde o terapeuta fornece ferramentas e orientação, mas o verdadeiro trabalho de transformação deve ser realizado pelo próprio indivíduo. O reconhecimento de que o "grande desafio" é a mudança pessoal e o autoconhecimento demonstra que Andreia estava preparada para assumir um papel ativo na sua recuperação.
O Processo de Transformação: Quando o "Clique" Acontece
Como muitas pessoas que passam por processos terapêuticos, Andreia descreve um momento de "clique" – um ponto no tratamento onde as mudanças começam a tornar-se perceptíveis e significativas.
"Ao fim de um mês, dois meses, sim, começamos a sentir, efetivamente, o 'clique' da terapia."
Esta descrição do timing do "clique" é valiosa por várias razões. Primeiro, ela oferece uma expectativa realista para outras pessoas que possam estar a considerar a terapia – as mudanças significativas raramente acontecem imediatamente, mas geralmente começam a manifestar-se após algumas semanas ou meses de tratamento consistente.
Segundo, a menção específica de "um mês, dois meses" sugere que Andreia estava atenta ao seu próprio processo, observando e notando as mudanças à medida que ocorriam. Esta autoconsciência é em si mesma um sinal de progresso terapêutico, indicando uma mudança da reatividade automática para uma postura mais reflexiva e observadora.
O Mistério da Cura: Quando Menos é Mais
Um dos aspectos que mais surpreendeu Andreia no seu processo terapêutico foi a aparente simplicidade do tratamento. Ao contrário de abordagens médicas convencionais, onde os pacientes recebem medicamentos ou intervenções físicas diretas, a Psicoterapia HBM parecia operar de forma mais subtil e, no entanto, profundamente eficaz.
"É incrível ver como é que um tratamento em que nada nos dão, quase nada dizemos, além do feedback inicial sobre como está a correr. Porque depois nada mais é feito."
Esta observação reflete o contraste entre o paradigma médico tradicional, focado em "dar" algo ao paciente para eliminar sintomas, e a abordagem psicoterapêutica, que opera mais através da facilitação de processos internos de cura e transformação. Para alguém habituada ao modelo médico convencional, pode parecer surpreendente que uma intervenção aparentemente tão "minimalista" possa produzir resultados tão significativos.
A surpresa de Andreia com a eficácia de um tratamento onde "nada nos dão" e "quase nada dizemos" sugere uma mudança de paradigma na sua compreensão da cura – de uma expectativa de soluções externas para um reconhecimento do poder dos processos internos de autocura quando adequadamente facilitados.
Lições da Jornada de Andreia
O testemunho de Andreia oferece várias lições valiosas para qualquer pessoa que esteja a lutar com ataques de pânico, ansiedade ou vício em trabalho:
O trabalho excessivo pode ser uma forma de fuga: Embora frequentemente celebrado na nossa cultura, o vício em trabalho pode ser uma estratégia de evitação que, a longo prazo, contribui para problemas de saúde mental. Reconhecer isto é um passo importante para desenvolver uma relação mais saudável com o trabalho.
O isolamento social agrava os problemas de saúde mental: A metáfora da "avestruz com a cabeça na terra" ilustra vividamente como o isolamento social pode parecer uma solução a curto prazo, mas acaba por agravar os problemas a longo prazo.
A recuperação requer participação ativa: Como Andreia reconhece, ninguém pode mudar a nossa vida sem sermos nós próprios. A terapia fornece ferramentas e orientação, mas o verdadeiro trabalho de transformação deve ser realizado pelo próprio indivíduo.
As mudanças levam tempo: O "clique" da terapia geralmente não acontece imediatamente, mas após algumas semanas ou meses de tratamento consistente. Esta expectativa realista pode ajudar as pessoas a persistirem no processo terapêutico mesmo quando os resultados não são imediatamente visíveis.
A cura pode vir de formas surpreendentes: Por vezes, as intervenções mais eficazes não são as mais complexas ou invasivas. A surpresa de Andreia com a eficácia de um tratamento aparentemente simples lembra-nos que a cura pode vir de formas inesperadas.
Um Novo Capítulo: Vida Além do Pânico e do Vício em Trabalho
Hoje, Andreia vive uma vida muito diferente daquela que conhecia antes do tratamento. Embora reconheça que ainda tem tendência para o vício em trabalho, ela desenvolveu uma relação mais saudável com o trabalho e consigo mesma. Os ataques de pânico que antes a dominavam já não controlam a sua vida, permitindo-lhe recuperar a liberdade e a qualidade de vida que tinha perdido.
A sua jornada ilustra que, mesmo quando os ataques de pânico são tão severos que levam a manifestações físicas extremas e quando padrões comportamentais como o vício em trabalho estão profundamente enraizados, a recuperação é possível. Com o tratamento adequado e um compromisso com a mudança pessoal, é possível transformar o sofrimento em crescimento e encontrar um novo equilíbrio na vida.
Para aqueles que ainda estão presos no ciclo de ansiedade, pânico e comportamentos de evitação, o testemunho de Andreia oferece algo precioso: a prova viva de que a recuperação não é apenas uma possibilidade teórica, mas uma realidade alcançável.
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