Ana: Ansiedade, Pânico e tudo o que a COVID despertou

Ana sempre foi uma jovem ansiosa, mas nada a preparou para o que viveu durante a pandemia. Após contrair COVID-19, foi internada duas vezes, uma delas nos cuidados intensivos — experiência que marcaria o início de um ciclo de ansiedade extrema e ataques de pânico constantes.

"Foram muitos ataques de pânico, ansiedade, o medo de voltar a ser internada. No segundo internamento, então… foi o pânico total. Foi do género: 'Eu vou ficar aqui. Quando é que eu vou sair?'"

O isolamento, a falta de contacto com a família e a gravidade da sua condição física fizeram explodir uma ansiedade que já existia, mas que nunca se tinha manifestado com tal violência. Ana fala numa "bolinha de neve" que foi acumulando emoções por engolir tudo sozinha — até ao momento em que "a bola arrebentou".

"Vê-se coisas lá dentro que ninguém acredita. Nós vemos na televisão, mas uma coisa é estares mesmo lá dentro."

Depois da alta, percebeu que não estava bem. Os ataques de pânico tornaram-se incontroláveis, levando-a de volta ao hospital após o que parecia ser uma convulsão. A dor emocional era tanta que chegou a pensar em automutilar-se, sem compreender bem porquê — apenas queria fugir àquele sofrimento.

O Robô Sem Emoções e o Peso da Medicação

Ana começou a ser medicada com ansiolíticos e antidepressivos. No início, parecia haver algum alívio. Mas rapidamente percebeu que os comprimidos apenas a desligavam emocionalmente. Estava a tomar até 15 comprimidos por dia, incluindo medicamentos pesados que a deixavam apática.

"Eu era um robô autêntico. Eu não tinha emoções."

A medicação adormecia, mas não curava. Quando passava o efeito, o sofrimento voltava igual. Foi um ciclo vicioso — dormia, acordava e voltava ao mesmo estado. Além disso, o tratamento com cortisona provocou um aumento de peso de quase 20 quilos, afetando a autoestima e agravando o mal-estar.

"Os calmantes punham-me a dormir, mas quando acordava estava igual. Era um ciclo."

Ao sofrimento psicológico juntava-se o estigma. Ana ouviu comentários desvalorizadores por parte de colegas ou conhecidos. Sugestões como "respira fundo", "vai dar uma volta" ou "isso é da idade" só aumentavam o seu isolamento. Começou a duvidar de si própria.

"Cheguei a pensar que estava tolinha. Que não estava bem."

Um Novo Caminho: O Primeiro Dia na Clínica da Mente

Cansada, descrente e sem esperança, Ana chegou à Clínica da Mente. Tinha um histórico de tratamentos desde a infância, após o abandono do pai. Nenhuma abordagem anterior tinha resultado.

"Entrei na clínica com zero esperanças. Porque com todos os relatórios, toda a medicação... não acreditava que algo fosse mudar."

Mas algo mudou logo na primeira sessão. Sentiu-se acolhida. Pela primeira vez em muito tempo, conseguiu falar com liberdade e explicar como se sentia. Sentiu empatia, respeito e uma escuta verdadeira.

"Logo na primeira consulta senti uma à-vontade enorme. E comecei a sentir melhorias desde o início."

A abordagem da Psicoterapia HBM permitiu-lhe abrir-se ao seu ritmo. Houve confiança e paciência por parte da terapeuta, que lhe deu espaço para que a partilha acontecesse naturalmente.

"A doutora disse: 'Podes falar no teu tempo. Eu estou aqui.' Isso fez toda a diferença."

Superar o Medo e Sentir a Vida de Novo

Um dos marcos mais importantes foi o início do processo de desmame da medicação. Ana não queria mais viver como um robô. Com o acompanhamento terapêutico, começou a reduzir gradualmente os fármacos e a reconectar-se com as emoções.

"Foi voltar a viver. A sentir tudo. Foi como se um turbilhão de emoções entrasse para mim outra vez. Passinhos de bebé, mas chegámos lá."

Com o tempo, as pequenas vitórias começaram a surgir. Um dia, sem planear, decidiu enfrentar um medo antigo: andar num carrossel. Fê-lo sozinha, espontaneamente, e sentiu orgulho por isso.

"Eu cheguei e disse: 'Olhe, voltei a entrar num carrossel.' E ela: 'O quê?' E eu: 'Fui! Arrisquei.'"

Este episódio tornou-se simbólico do seu novo modo de viver. Já não evitava a vida. Aprendeu a dialogar com o medo — reconhecê-lo, mas não deixá-lo vencer.

"A cabeça tenta dar-nos a volta, mas agora sou eu que lhe dou a volta a ela. Se acontecer, eu arranjo uma solução."

As consultas tornaram-se um refúgio. Ana sentia ansiedade — mas uma ansiedade positiva — para voltar à clínica. Ali, encontrava segurança, empatia e progresso. Saía das sessões mais leve, mais forte, mais viva.

"Estava num estado de paz e tranquilidade no consultório. Precisava mesmo de ir para lá."

Através dos exercícios terapêuticos, encontrou conforto e descobriu estratégias para se acalmar. Mas mais do que isso, descobriu o valor de ser ouvida por alguém que verdadeiramente a compreendia.

"Os exercícios ajudam, mas ter alguém confiante e que nos entende para falar... isso é tudo."

Uma Vida com Coragem e Gratidão

Hoje, Ana está numa fase muito diferente da sua vida. Ainda há dias difíceis, mas agora sabe enfrentá-los. O sentimento dominante é a gratidão — pela força que descobriu em si, pela ajuda que recebeu e por não ter desistido.

"Dou muito valor a mim mesma. Ultrapassei isto acompanhada, mas fui eu que me levantei todos os dias da cama e disse: 'Bora lá!'"

A sua nova filosofia é simples: um dia de cada vez, aceitar os altos e baixos e não resistir ao que a vida traz.

"Vai haver pedras no caminho, mas estamos cá para varrê-las se for preciso. É deixar fluir."

Acima de tudo, aprendeu a valorizar-se — a sua história, a sua coragem, a sua recuperação. Já não sente vergonha por ter pedido ajuda. Pelo contrário, reconhece que foi um dos maiores atos de força que teve.

A Mensagem de Ana

A partilha de Ana é um gesto de generosidade. Ela acredita que, se a sua história tocar alguém que esteja a passar pelo mesmo, já valeu a pena.

"Se alguém estiver a ver isto e se identificar... Não tenham medo de pedir ajuda. E se tiverem medo, tentem na mesma."

A sua mensagem é simples e profunda: a recuperação é possível. Mesmo quando tudo parece perdido, há sempre um caminho. E não precisamos percorrê-lo sozinhos.

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