Violência doméstica: e depois de sair deste "inferno"?

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O que é a Violência Doméstica?

Considera-se Violência Doméstica todas as agressões físicas e psicológicas existentes no seio de uma família. As agressões psicológicas incluem a manipulação da vontade, humilhação ou violência verbal, diminuindo a autoestima da vítima e assim eliminando a capacidade de reação. Por defeito, iremos aqui considerar a violência do homem sobre a mulher, mas a violência doméstica é multidirecional, podendo o agressor e o agredido ser o homem, a mulher, os filhos ou outros elementos do seio familiar.

O que pode levar um homem a agredir uma mulher?

Por norma, a mulher tem menos capacidade física que o seu parceiro e isso coloca-a em desvantagem física. Por outro lado, ainda é normal a mulher depender economicamente do seu marido, facto que faz da mulher o elo mais fraco da relação a dois. Todas as pessoas buscam significância, isto é, serem considerados fortes, com significado, serem importantes. 

No entanto, muitos homens fracos, na busca de significância, impõem a sua força sobre quem acham ainda mais fracos, para que desse modo possam ser “fortes”. Este é também o processo do bullying juvenil, onde os fracos buscam a sua força agredindo e rebaixando os outros. Muitos homens, agredidos diariamente pelo peso do seu passado de humilhação e resignação, ou agredidos e humilhados no dia a dia por outros agressores, como no trabalho ou no seu grupo social, encontram na sua mulher um ser mais frágil, pelas circunstâncias definidas em cima, e na primeira vez que agridem a esposa, ao não encontrar resistência, mas sim medo e resignação, apercebem-se de que afinal são fortes, que alguém tem medos deles. Aumentam a sua autoestima por essa via e mantêm-na elevada continuando com as agressões físicas e psicológicas.

O que leva a mulher a resignar-se perante a agressão?

A mulher agredida tem Medo: Medo de que, ao reagir, possa ser mais agredida; Medo de denunciar o agressor às autoridades por perceber que o Estado não a protege; Medo de que os filhos também sejam agredidos; Medo de não ter capacidade financeira para se manter e manter os filhos. Medo de ficar sozinha… e é esse Medo que alimenta o agressor. O Medo, combinado com a manipulação emocional que o agressor provoca, pedindo desculpa pela agressão, afirmando que nunca mais o vai fazer, faz com que para a vitima seja difícil tomar uma decisão de afastamento acreditando que tudo vai mudar. 

Até há 30 anos, em Portugal, a violência doméstica era tida como normal. Dizia-se: “entre marido e mulher ninguém ponha a colher”, as autoridades policiais não se intrometiam, as famílias das vítimas não se impunham e todos se resignavam. Felizmente, houve uma mudança deste paradigma, com associações como a APAV a ter atualmente um papel nessa mudança muito significativo.

Como parar com a Violência Doméstica?

Não há segredos mágicos que resolvam este problema, mas sim uma mudança de cultura, de crenças e valores da população. No entanto, a mulher vítima tem de parar com as agressões tendo como princípios que:

  • Nunca ninguém a pode agredir;
  • Quem a agride não a merece;
  • A razão da sua existência é unicamente para ser feliz, vivendo uma vida que lhe traga prazer;
  • Que os seus filhos, numa família disfuncional, não são felizes, e que serão mais felizes se os pais estiverem separados;
  • Que as dificuldades económicas serão ultrapassadas, se pedir ajuda será ajudada.

Quais as atitudes a tomar?

Perante o agressor, a vítima tem que se mostrar forte, nunca se resignando, reagindo a cada agressão. Se o Medo é a força do Fraco, ao não termos Medo o Fraco fica sem força. A mulher tem que demonstrar ao agressor que não tem medo e que, apesar de no confronto físico ser mais frágil, esta também pode exercer força sobre o agressor, tanto fisicamente como legalmente.

A mulher deve sempre denunciar a agressão ás autoridades, à família, aos vizinhos, fazendo diminuir a autoestima social que o agressor tem perante a sociedade. Se a família, os vizinhos e os colegas do agressor conhecerem a faceta de agressor, este vai ficar sem apoio social e sem força, percebendo assim que a agressão serve apenas como fator de discriminação e de desenquadramento. Lembro-me sempre de uma paciente que tive há alguns anos que me disse que o marido parou de lhe bater quando ela lhe disse: ” Meu amor, bate-me como quiseres, mas nunca mais durmas comigo, porque durante a noite, quando adormeceres, eu estarei acordada. Nunca mais comas a comida que eu te fizer, pois esta poderá estar diferente, só para ti.”

Sem Medo, temos Força!

Há tratamento para os agressores e para as vítimas?

Sim. As vítimas das agressões, pelos anos de violência sobre elas exercida, encontram-se incapazes de reagir, sem rumo e resignadas. Para conseguirem enfrentar o Medo, devem libertar-se de todas as emoções de humilhação, mágoa e medo que viveram até ali. Só quando encontram o seu equilíbrio emocional é que conseguem reagir. Este estado é alcançável com o apoio de amigos e da família. Nos casos mais graves, só a psicoterapia pode ajudar.

Os agressores devem procurar também tratamento. O agressor tem um passado que potencia este comportamento, um passado muitas vezes traumático que lhe proporciona baixa autoestima, falta de confiança, agressividade e impulsividade. Só aceitando que está errado e querendo mudar, a psicoterapia pode ser eficaz. Os agressores não são felizes, estão em desequilíbrio emocional, e provocam muito sofrimento ao seu redor.