"Vamos ajudar os nossos adolescentes a respeitarem o outro e a sua liberdade"

Desabafos de uma psicoterapeuta em Quarentena | Dia 34

18 de Maio e o regresso à normalidade

Normalidade? O que é isso? Para mim normal é acordar às 7h00 da manhã, tomar pequeno-almoço, fazer exercício físico na minha sala, tomar banho, preparar-me e ligar o portátil no escritório para começar a trabalhar.

Porém se têm em casa um adolescente entre os 17/18 anos já devem ter ouvido falar desta data. Devem ter visto nos olhos deles a certeza, a determinação do:
“Eu vou para a escola a 18 de Maio, o Governo já disse que podemos!!”
Até já os deve ter apanhado a combinar com os amigos como é que vai ser o grande dia: onde vão almoçar, os TikToks que vão fazer atrás do pavilhão, entre outros festejos de rentrée.

Na sua cabeça de Mãe e Pai a história é outra… Já só consegue pensar em máscaras e em viseiras. E luvas serão necessárias? Pensa na dimensão das turmas, das salas… E os intervalos? Eles vão ficar na sala? Vão à vez para não haver tantos alunos nos espaços comuns? As aulas de Educação Física, será que vão acontecer?

E os adolescentes lá de casa? Como vão eles reagir às novas medidas? Quantos: “Mãe não quero levar a máscara!” acha que vai ouvir? Quantos dos nossos adolescentes que, vendo-se livres da vigilância dos pais vão pôr a máscara e a viseira na mochila? Quantos serão aqueles que vão deixar-se levar pela saudade e vão dar abraços, beijos aos amigos e vão andar de mão dada com o/a namorado/a que já não vêem há 2 meses?

Pai, Mãe, ouçam-me… vão fazer o vosso melhor, nada mais. E que mais podem fazer do que o vosso melhor? Em cada momento que estão com os vossos adolescentes vão ser Pais Educadores. Vão educá-los sobre os riscos, a importância do uso das máscaras e que o regresso à escola é um privilégio frágil que só depende deles mantê-lo.

E quanto à Comunidade Educativa? Obviamente não podemos pedir aos Professores que policiem os nossos adolescentes nos corredores. Podemos sim pedir que facultem aos alunos informação fidedigna e que lhes ensinem a diferença entre fontes de informação credíveis de não credíveis, para que eles próprios ganhem competências para desacreditar mitos e notícias falsas que possam ter tido acesso pelas redes sociais.

Estamos a falar de adolescentes, alguns deles já adultos, responsáveis por votarem sobre o caminho que este país deve seguir. Vamos aproveitar esta oportunidade para criar neles o sentido de responsabilidade individual e colectiva? 

Vamos ajudar os nossos adolescentes a respeitarem o outro e a sua liberdade. Vamos ajudá-los a compreender a razão pela qual todos nós decidimos que queremos viver em sociedade e respeitar as mesmas normas, regras e leis. 

Eu sei que aos vossos olhos Pais, serão sempre pequeninos… Mas acredito que chegou a hora de lhes exigir um pouco mais, dando-lhes assim a oportunidade deles vos mostrarem o quanto estão crescidos, o quanto são responsáveis.

Joana