Tenho Depressão. Como posso aprender a amar de novo?

Carta ao meu marido

Sinto-me sem energia. O mero exercício de acordar e sair da cama deixa-me exausta e incapaz de perceber como é que vou lidar com o dia que ainda agora começou. Arrasto-me para a banheira na tentativa de tomar um banho, de começar um dia novo, do zero. Não tenho muita fome e a pouca que sinto desaparece com a ideia de ter de cozinhar. Há dias em que sinto que não vivo, sobrevivo.

Vivo com Depressão há 10 anos e sou casada com o marido mais-que-maravilhoso há 15. Finalmente, iniciei um tratamento e sinto que aos pouquinhos vou ficando melhor, mas os dias maus ainda não me permitem ser feliz.

Desde de que caí neste buraco bem fundo, que o meu casamento mudou. Para que uma relação funcione precisamos de lutar por ela, trabalhar todos os dias para crescermos juntos. Mas se até para tomar banho a energia se esgota, como vou conseguir retribuir o amor dele? Se não consigo gostar de mim, se não consigo estar em paz comigo, como posso estar em paz com ele? Neste momento, tudo o que eu mais quero é poder retribuir o seu abraço, é poder deixar-me cair nos seus braços, é sentir-me consumida pelo carinho que todos os dias ele me tenta dar. É tudo o que eu mais quero, mas é também tudo aquilo que eu não consigo fazer.

É tão ingrato estar há 10 anos com alguém que não é capaz de mostrar amor. Mas não é porque eu não quero, é porque eu não consigo. Sou grata todos os dias por tudo aquilo que fazes por mim, por me ajudares a sobreviver, e a enfrentar as mais pequenas batalhas do dia-a-dia. Sei que muitas vezes te culpas, sei que muitas vezes não percebes porque ainda estou assim, mas acima de tudo sei que tentas compreender, sei que tentas aceitar. Não há mais nada que possa pedir a não ser que esperes por mim, só mais um pouco, porque este caminho da minha recuperação também é por ti, para que possamos voltar a ser nós.

Obrigada por ti e por tudo o que me dás. Vou fazer de tudo para regressar a mim. Vou aprender a voltar a gostar de mim. Vou voltar a mostrar-te o quanto te amo.

Filipa

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Duas histórias de vida marcadas pela Depressão. Por um lado, um exemplo de superação após tratamento. Por outro, um caso difícil e infelizmente mais comum do que gostaríamos, uma mulher que não se lembra do que é ser feliz.

Diana tinha 17 anos quando o mundo lhe trocou as voltas e os planos. Conta-nos a sua história, forma como percebeu que estava com Depressão e como a superou.

Apesar de ser uma das perturbações mais comuns e incapacitantes em todo o mundo, ainda há um grande desconhecimento sobre a Depressão. Vamos desmitificar algumas ideias erradas que ainda existem.