"Talvez o novo coronavírus tenha vindo para nos alertar e fazer ver as coisas boas que temos"

Dra. Catarina Graça

Desabafos de uma psicoterapeuta em Quarentena | Dia 3

Andamos tão absorvidos no nosso dia a dia que de vez em quando lá damos uma vista de olhos nas notícias que acontecem no mundo e lamentamos muitas desgraças que vão ocorrendo. Muitos são os alertas que nos vão dando sobre  o meio ambiente, a poluição, o caminho que o nosso mundo está a levar. 

Já há muito tempo que era urgente que mudássemos os nossos maus hábitos…mas como andamos em “piloto automático”, não chegamos a efetivar essa reflexão e a mudarmos as nossas rotinas mais tóxicas. Estamos habituados a que haja solução para tudo, que venha um milagre científico que resolva tudo. Até ao dia em que surge algo que nos tira completamente o tapete debaixo dos pés. Algo que não se vê mas que nos atacou no nosso ponto mais fraco e mais valioso – a nossa sobrevivência. 

Mesmo no final do ano de 2019, começou a formar-se aquela que é a nossa maior ameaça dos dias de hoje: um vírus que ainda ninguém sabe ao certo como apareceu. Percebe-se mais ou menos como atua, ainda não há um medicamento específico e tão pouco uma vacina. Parece então que a única arma que temos é fugir dele. Isolarmos-nos, protegermos-nos a nós próprios ao mesmo tempo que deste modo protegemos os outros. Mas será só a nossa saúde que está em causa?

Uma vez que a nossa única ferramenta é mudarmos totalmente a nossa maneira de estar….Somos obrigados a mudar TUDO. A nossa forma de pensar, os nossos comportamentos, a nossa forma de interagir, de trabalhar, de adquirir os nossos bens necessários à nossa sobrevivência…TUDO. Se temos reservas emocionais para lidar com tudo isto? Não sei, depende. Depende da nossa capacidade de adaptação e de aceitação a algo que não conseguimos controlar totalmente. 

É normal termos medo, é normal estarmos ansiosos, é normal não sabermos lidar com o facto de não podermos sair de casa, de não nos podermos reunir com a nossa família…é normal temermos as sequelas desta catástrofe que estamos a viver a nível mundial. E o facto de ser algo mundial assusta, mas por um lado faz-nos sentir que não estamos sozinhos nisto. Inevitavelmente esta situação terá de puxar pelo altruísmo e pelo humanismo de cada um de nós e talvez o Coronavírus tenha vindo para nos ensinar algo… Para nos alertar e fazer ver as coisas boas que temos nas nossas vidas, a preocuparmo-nos com o que realmente importa. Mas não somos de ferro. E é por isso que se torna tão importante o espírito de entreajuda.

Como psicóloga que sou, não deixo nesta fase de ser observadora do comportamento humano e não deixo de detetar a pertinência do apoio psicólogo que já existia e que se intensifica ainda mais nesta fase. Mantermos a nossa Saúde Mental, a nossa estabilidade emocional e psicológica é agora um ENORME desafio à nossa resistência.