Somos livres ou escravos
dos nossos pensamentos?

Catarina Graça

A propósito de liberdade, será que somos livres ou somos escravos dos nossos próprios pensamentos? Muitas vezes oiço os meus pacientes dizerem que se sentem presos nos seus próprios pensamentos. Que sofrem com aquilo em que pensam e que sentem que não os conseguem controlar…como se fosse algo mais forte. Realmente a nossa mente está feita para pensar, o nosso cérebro é dotado de uma capacidade de reflexão sobre os estímulos que recebemos de fora, sobre as experiências que nos aconteceram, sobre as emoções que são geradas no momento, etc.

O pensamento pode ser controlado ou é ele que nos controla?

No entanto, ninguém disse que o nosso cérebro se rege por uma autodisciplina. Como qualquer jardim, para que o mesmo se torne harmonioso temos de cuidar dele. Com o nosso corpo, para que o mesmo se torne forte e saudável, é necessário cuidar dele e criar bons hábitos. Então também o mesmo é necessário de se fazer com a nossa mente e com os nossos pensamentos. Certo é que aquilo que somos hoje é um resultado das experiências que vamos colecionando ao longo da nossa vida e, por isso, de acordo com as circunstâncias poderá haver uma razão mais justificada para que a corrente de pensamentos seja mais positiva ou pelo contrário mais negativa. Mas factos à parte, se nós sentimos aquilo em que pensamos, então tornar-se fundamental que se treine a capacidade de disciplinarmos o nosso próprio pensamento. Torna-se por esse mesmo motivo necessário contrariarmos a tendência tal como se faz quando temos de remar contra uma maré para podermos sair da água. E é aqui que percebemos que então o pensamento pode ser controlado em vez de nos controlar.

Quando treinamos e desenvolvemos esta capacidade dentro de nós percebemos de imediato que não estamos presos a nada, pelo contrário, somos até bastante livres de pensarmos sobre o que quisermos da maneira que quisermos. Aliás, é até das liberdades mais genuínas e intocáveis das quais o ser o humano é dotado. Porque até podemos estar fisicamente confinamos a um mesmo espaço que a nossa mente e o nosso pensamento pode viajar pelo mundo fora…basta imaginarmos. E é neste ponto que gostava também de me concentrar, que efetivamente um pensamento não passa de uma imaginação e nunca de uma realidade. Até mesmo quando só estamos a pensar sobre algo que já aconteceu, tudo o que é acrescentado já não corresponde à realidade. Achamos que isso acontece como forma de refazermos o evento para que o mesmo possa ser por nós melhor processado e por isso melhor aceite. Por isso é que pensamos e voltamos a pensar no mesmo assunto. Iremos fazê-lo até que o mesmo já não nos pareça tão mau ou tão preocupante.

Aquilo que não podemos mesmo aceitar é o pessimismo e a entrega às adversidades. Esse tem que ser o nosso objetivo, a meta a alcançar. Temos que nos disciplinar e pensar que somos capazes, que temos controlo naquilo em que acreditamos, naquilo que sentimos e na forma como nos comportamos. Mas, se por algum motivo não estamos a conseguir alcançar uma boa autodisciplina, se não conseguirmos gerar autonomamente pensamentos positivos e compensatórios de forma a tranquilizarmo-nos a nós próprios, então é considerado normal e importante que se procure ajuda. Uma ajuda que vai travar o nível de toxicidade que o pensamento pode produzir restabelecendo-se assim o foco naquilo que é mais valioso…que é o no bem-estar e a nossa felicidade.