Prevenção do Suicídio: Educação, Apoio e Esperança

Dr. Pedro Brás

O suicídio em Portugal é a primeira causa de morte de crianças e Jovens adultos até os 29 anos. Morrem por ano em Portugal mais de 1000 pessoas e mais de 25.000 pessoas entraram nos serviços médicos com tentativas de suicídio.

O suicídio é um tema complexo que suscita uma série de questões emocionais, sociais e psicológicas. Ele ocorre quando uma pessoa decide deliberadamente tirar a própria vida e pode resultar de uma interação complexa de fatores psicológicos, sociais e ambientais.

É importante compreender que o suicídio não é simplesmente uma questão de escolha, fraqueza ou falta de coragem. Na verdade, muitas vezes, é o resultado de uma intensa dor emocional e desesperança, combinada com uma sensação avassaladora de falta de saída para a situação em que a pessoa se encontra.

Este fenómeno afeta pessoas de todas as idades, origens e condições socioeconómicas. Embora seja mais comum em certos grupos demográficos, como jovens, idosos, e pessoas LGBTQ+, ninguém está imune ao risco de suicídio.

O suicídio pode ter um impacto devastador não apenas na pessoa que morre, mas também na sua família, amigos, colegas e na comunidade em geral. A perda de uma vida por suicídio deixa cicatrizes emocionais profundas e pode desencadear uma variedade de emoções complexas, incluindo tristeza, raiva, culpa e confusão.

É crucial abordar o tema do suicídio com compaixão, empatia e sensibilidade. Isso envolve reconhecer o sofrimento daqueles que lutam com pensamentos suicidas e oferecer apoio e recursos para ajudá-los a encontrar esperança, tratamento e recuperação. A conversa aberta e honesta sobre o suicídio é fundamental para reduzir o estigma e promover a prevenção.

Porque acontece o suicídio?

Segundo o modelo Psicoterapêutico HBM, a ideação suicida, ou seja, os pensamentos que conduzem ao suicídio, são desencadeados por uma dor profunda de angústia que consome a energia necessária para se viver. Nesse estado de angústia intensa, a pessoa sente que só pondo termo a sua vida terminará com tal sofrimento.

Esse estado extremo de angústia é observado em duas situações. A menos comum surge quando existe um sentimento de desesperança, onde a pessoa, em determinado momento, não vê uma saída para seus problemas, entrando num estado de depressão. Pessoas que sofrem de violência doméstica, bullying, dificuldades financeiras, entre outros tipos de situações limite, muitas vezes são envolvidos por sentimentos de desesperança. Essa falta de esperança de que haja um amanhã sem dor, gera uma angústia tão intensa que a morte parece ser a única solução para “escapar” dos problemas. Há uma variação desse estado sempre que a pessoa olha para sua situação de uma perspetiva diferente. Quando percebe a sua vida sob uma perspetiva mais positiva, a angústia diminui e a normalidade retorna. A existência dessa oscilação favorece o bem-estar e, consequentemente, a ideação suicida não se concretiza, na maioria das vezes.

No entanto, existe outra situação mais grave que se acredita estar por trás da maioria das situações de suicídio consumado: o Distúrbio Cíclico da Angústia. Este distúrbio emocional existe da mesma forma que o síndrome do Pânico; no entanto, enquanto este síndrome cria uma desregulação psicológica da emoção medo, levando a ataques sucessivos de pânico, o distúrbio cíclico da angústia afeta a emoção da tristeza. As pessoas com esse síndrome experimentam um estado de tristeza em espiral que culmina numa angústia insuportável. Nesse estado, a morte parece ser a única forma de escapar a essa angústia extrema. É importante notar que, aqui, não se trata de desesperança ou depressão; aliás, a pessoa pode nunca ter tido depressão, apenas ter sido afetada por essa perturbação emocional em algum momento.

Esse distúrbio psicológico é mais grave, porque a frequência e a intensidade do estado de angústia são maiores. Ao contrário da situação de desesperança, onde uma mudança na perspetiva da vida pode trazer algum alívio, no distúrbio cíclico da angústia, as pessoas não encontram alívio mesmo quando tentam mudar as suas perspetivas sobre a vida. Isso ocorre porque a causa da angústia não está relacionada a aspetos concretos da vida, mas sim a uma perturbação emocional mais profunda.

Nesse contexto, o suporte de amigos e até mesmo de profissionais de saúde pode não ser suficiente para aliviar o sofrimento da pessoa afetada. Por mais que recebam apoio e compreensão, elas continuam a sentir uma tristeza avassaladora e uma angústia insuportável, o que pode levá-las a considerar o suicídio como a única saída para acabar com esse sofrimento constante.

Sinais de Alerta e Como Intervir

É crucial estar atento aos sinais de alerta que podem indicar que alguém está em risco de suicídio. Esses sinais podem variar de pessoa para pessoa, mas incluem expressões de desesperança, isolamento social, mudanças abruptas de humor, aumento do consumo de álcool ou drogas, descuido com a aparência pessoal, expressões de culpa ou autoaversão, e até mesmo declarações diretas sobre querer morrer ou magoar-se.

Quando se percebe esses sinais, é fundamental agir com empatia, compaixão e prontidão para ajudar. Iniciar uma conversa aberta e de não julgamento sobre o que a pessoa está a passar pode ser o primeiro passo para oferecer apoio. Mostrar interesse genuíno, ouvir atentamente, validar os sentimentos da pessoa e oferecer suporte emocional são maneiras importantes de demonstrar cuidado e compreensão.

Se alguém expressar pensamentos suicidas ou comportamentos autodestrutivos, é crucial levar a sério essas preocupações e procurar ajuda profissional imediatamente. Isso pode incluir entrar em contato com um profissional de saúde mental, ligar para uma linha de apoio ou emergência, ou acompanhar a pessoa até o pronto-socorro mais próximo.

Intervenções precoces e apoio adequado podem fazer toda a diferença na prevenção do suicídio. É importante lembrar que oferecer ajuda não significa resolver todos os problemas da pessoa, mas sim estar presente, oferecer suporte e encorajar o acesso a recursos e tratamentos que possam ajudá-la a superar essa fase difícil.

Procurar Ajuda Profissional

A abordagem da Psicoterapia HBM tem sido fundamental para ajudar milhares de pessoas a superar o flagelo do suicídio. Em situações de desesperança, a Psicoterapia HBM enfatiza a dissociação emocional das experiências negativas que afetam a pessoa, o que potencializa a capacidade de mudar as perspetivas de vida para algo mais positivo e esperançoso. Este processo ajuda a pessoa a encontrar novos caminhos e alternativas, promovendo uma visão mais otimista da sua vida e do seu futuro.

No caso do Distúrbio Cíclico da Angústia, a Psicoterapia HBM adota uma abordagem específica, utilizando técnicas como Morfese e Athenese, que se têm mostrado essenciais para a superação desse estado de angústia mortal. Essas técnicas visam interromper o ciclo de tristeza e angústia, ajudando a pessoa a reconectar-se com suas emoções de forma mais equilibrada e saudável.

É importante ressaltar que, muitas vezes, a pessoa que passa por um estado de desesperança pode acreditar que ninguém a pode ajudar e, por isso, desiste facilmente de procurar ajuda. Nesse sentido, o apoio da família e dos amigos desempenha um papel crucial na procura de ajuda. Eles podem auxiliar a pessoa a encontrar os melhores serviços de saúde mental disponíveis e, principalmente, incentivar e apoiar a pessoa a aceder aos tratamentos necessários para a sua recuperação. O suporte emocional e a presença constante são fundamentais para que a pessoa se sinta compreendida, acolhida e encorajada a procurar o auxílio profissional adequado.

Conclusão e Mensagem de Esperança

Ao refletirmos sobre a complexidade do tema do suicídio e do seu impacto na sociedade, é fundamental lembrar que existe esperança e que o suicídio é prevenível. Embora seja uma questão grave e multifacetada, há apoio disponível e estratégias eficazes para ajudar aqueles que estão a sofrer.

É importante reconhecer que todos nós, como membros da comunidade, desempenhamos um papel vital na prevenção do suicídio. Educar-nos sobre o tema, promover uma cultura de abertura e compreensão em relação à saúde mental e ao suicídio, e oferecer apoio e compaixão àqueles que estão em crise são passos essenciais que podemos tomar.

Devemos também cuidar da nossa própria saúde mental, reconhecendo a importância de procurar ajuda se estivermos a enfrentar dificuldades emocionais. Não devemos hesitar em procurar apoio profissional ou compartilhar os nossos sentimentos com amigos e familiares em momentos de necessidade. Não estamos sozinhos, e há pessoas dispostas a ajudar-nos e a apoiar-nos nos nossos momentos mais difíceis.

Portanto, que possamos encarar o tema do suicídio com coragem, empatia e determinação. Que possamos trabalhar juntos para criar comunidades mais acolhedoras, onde o apoio mútuo e a compaixão sejam a norma. E que possamos lembrar sempre que, mesmo nos momentos mais sombrios, há esperança e ajuda disponível para aqueles que procuram. Juntos, podemos fazer a diferença e salvar vidas.