O colo da mamã também é meu!

A vinda de um novo irmão/irmã é um verdadeiro desafio para os pais na forma como trabalham em parceria para garantir a harmonia familiar.

O primeiro filho do casal até pode ter sido o primeiro a desejar um irmãozinho ou uma irmãzinha, mas não imaginava os ajustes que isso iria implicar nas suas rotinas diárias. Inevitavelmente, a criança mais velha terá que aprender a partilhar o colo dos pais, a habituar-se à ideia de ser o pai a protagonizar mais vezes aqueles momentos de “mimalhice” que ela tinha com a mãe ao final do dia e, a sujeitar-se a “banhos-relâmpago” naqueles 10 segundos em que o(a) mano(a) não está nem a chorar, nem está tipo “lapa” no colo da mãe.

Enfim… A própria mãe sente essa escassez de tempo, não só para canalizar mais atenção para o primeiro filho, como também para se “mimar” e recarregar baterias para o dia seguinte. Qualquer mãe com um bebé no seu lar sente os seus dois minutos no seu duche diário como um verdadeiro SPA terapêutico que renova energias para os momentos absorventes que a esperam do outro lado da cortina do banho…

As noites mal dormidas também deixam os pais mais esgotados e menos dispostos para concluir aquele puzzle de cem peças do Mickey ou para acabar aquela construção de legos que tinham prometido ao filho(a) mais velho(a) como aquele momento só dele(a)… É aqui que começam as chamadas de atenção da criança para direcionar os olhares dos pais para si que, até então, estavam só focados nela. Entre respostas “tortas”, amuos à mesa, recusas em se deitar e invasões sorrateiras da cama dos pais em plena madrugada, os pais necessitam de um esforço extra para não entrarem em ebulição e manterem a serenidade.

Mas a verdade é que o amor supera tudo e, com muito empenho e trabalho de equipa entre os pais, o tempo estica, as rotinas ajustam-se e o colo passa a dar para dois ou até mais! É difícil, sim! Mas existem algumas estratégias que podem contribuir para este reequilíbrio familiar:

  • Com a cooperação da criança, relembre, redefina e registe o cumprimento das rotinas e hábitos da família que todos devem fazer um esforço para seguir, incluindo os pais (é muito importante formular essa listagem numa linguagem mais positiva: por exemplo, “todos devem falar com calma” ao invés de “não se deve gritar ou falar alto”);
  • Antecipe e diga à criança o que vai acontecer a seguir e dê-lhe alternativas de escolha, antes dela poder exprimir um “Não!” (por exemplo: “queres comer com a colher do Mickey ou do Ruca?”);
  • Envolva a criança nas novas tarefas em torno do bebé;
  • Antes de efetuar um pedido, desça ao nível da criança, capte a atenção dela e só depois efetue o pedido (é difícil a criança obedecer à primeira se estiver absorvida noutra atividade);
  • Saiba esperar um pouco mais para que a criança aceda aos pedidos dos pais (pedidos, e não ordens) antes de partir logo para a consequência;
  • Perante o incumprimento dos pedidos parentais ou eventuais birras, respire fundo, afaste-se um pouco e quando a criança também acalmar, retome o diálogo;
  • Elogie o mínimo esforço da criança ou mudança positiva no comportamento;
  • Entre fraldas e embalos do bebé, agende um momento de cumplicidade e muita “mimalhice” à mistura com a criança mais velha;
  • Peça a colaboração da outra figura paternal (afinal é a mãe que amamenta, mas isso não impede que possa ser o pai/avós a embalar, a posicionar o bebé para arrotar ou a tratar da “prendinha” que vem na fralda);
  • E sim! Dê um colinho extra ao(à) filho(a) mais velho(a) e aguente com as dores nas costas! Este é o único efeito secundário do famoso “colinho”, o melhor suplemento natural para o desenvolvimento socioafetivo da criança! E a sua sobredosagem só poderá causar muitos sorrisos extra! Fiquem sim preocupados se os filhos se “esquecem de tomar este suplemento” e deixam de procurar este porto seguro, mesmo quando já estão mais crescidos! Aí sim, devemos como pais ficar alertas e oferecer o nosso colo, o nosso consolo, o nosso amor incondicional, independentemente da idade dos filhos.

Nunca nos esqueçamos que o embalo no colo da mãe com a sua voz sussurrante, e o som do seu coração encostado ao ouvido dos filhos, é uma viagem no tempo ao início de tudo! É uma viagem ao local mais seguro e protetor do mundo: o útero materno! Aqui, o bebé experimenta pela primeira vez a sensação de um abraço forte que envolve todo o seu corpo pequenino e frágil e sente a serenidade no seu estado mais puro.

Ao revisitar a barriga da mãe através do colo, as nossas crianças conseguem assim, sentir-se amadas incondicionalmente e restituir a calma, a serenidade e a paz interior que só este lugar aconchegante consegue revigorar de uma forma tão imediata e segura para elas!