Estigma sobre a Saúde Mental: Porque existe?

Dr. Pedro Brás

O estigma da saúde mental refere-se aos preconceitos, estereótipos e discriminações associados às pessoas que sofrem de perturbações mentais ou enfrentam desafios de saúde mental. Esse estigma pode ser percebido na sociedade de diversas formas, incluindo atitudes negativas, discriminação no local de trabalho e acesso limitado aos serviços de saúde mental.

O estigma da saúde mental pode surgir devido a uma série de fatores, incluindo falta de compreensão sobre questões de saúde mental, medo do desconhecido, representações negativas nos meios de comunicação e crenças culturais enraizadas. Esses estigmas podem levar à marginalização das pessoas com problemas de saúde mental, impedindo-as de buscar ajuda e apoio quando necessário e contribuindo para o isolamento social e o sofrimento emocional.

É fundamental abrir um diálogo sobre saúde mental em diferentes contextos. Encorajar as pessoas a compartilharem as suas experiências e a procurar apoio emocional sem medo de julgamento ou discriminação é essencial para quebrar o estigma.

Principais causas da existência do Estigma:

Desconhecimento e falta de compreensão: Muitas pessoas têm um conhecimento muito limitado sobre questões de saúde mental e, portanto, podem ter conceções equivocadas ou estereotipadas sobre as perturbações mentais. A falta de compreensão pode levar ao medo, à discriminação e à marginalização das pessoas que sofrem de problemas de saúde mental.

Cultura e valores sociais: Em muitas sociedades, existe uma cultura de silêncio em torno da saúde mental, em que falar sobre problemas emocionais ou psicológicos é considerado tabu ou sinal de fraqueza. Isso pode levar as pessoas a sentirem envergonha ou relutância para procurar ajuda.

Representação nos meios de comunicação: A maneira como as perturbações mentais são retratadas na imprensa nem sempre é precisa ou equilibrada. Muitas vezes, vemos estereótipos negativos e sensacionalistas que reforçam ideias erróneas e contribuem para o estigma.

Experiências pessoais: Os indivíduos que enfrentam problemas de saúde mental podem enfrentar discriminação ou preconceito nas suas vidas diárias, o que pode levar à internalização do estigma e à relutância em assumir a sua condição e procurar tratamento.

Crenças culturais e religiosas: Em algumas culturas, as questões de saúde mental são vistas como resultado de fraqueza espiritual ou falta de fé, o que pode levar à estigmatização e ao ostracismo das pessoas que sofrem de perturbações mentais.

Qual o papel da medicina na perpetuação do estigma das Perturbações Mentais?

As perturbações emocionais são problemas das nossas emoções e não problemas do cérebro, como os problemas neurológicos, como Alzheimer ou mesmo o Parkinson, como atrasos cognitivos e intelectuais. Estas perturbações emocionais, derivam da dificuldade que, em algum momento, temos de gerir o nosso estado emocional e não de desequilíbrios químicos ou neurológicos.

Quais as principais formas de estigmatização provocada pela medicina?

  1. Estigmatização através da rotulagem: Quando os comportamentos são medicalizados e categorizados como perturbações mentais, as pessoas que apresentam esses comportamentos são rotuladas e estereotipadas com base nas suas condições de saúde mental. Isso pode levar à discriminação e ao estigma, à medida que as pessoas são vistas apenas através do filtro da sua condição médica, como se esses problemas tivessem origem na sua condição neurológica, bioquímica ou genética.
  2. Redução da responsabilidade pessoal: A medicalização pode levar a uma visão reducionista dos problemas de saúde mental, sugerindo que são causados principalmente por desequilíbrios químicos no cérebro ou por fatores biológicos. Isso pode resultar na diminuição da responsabilidade pessoal e na perceção de que as pessoas não têm controlo sobre seus próprios comportamentos, o que pode contribuir para o estigma, ao invés de promover uma compreensão mais abrangente e empática das questões de saúde mental.
  3. Promoção da dependência dos medicamentos: A medicalização dos comportamentos pode levar a uma cultura de dependência de medicamentos, na qual a solução para problemas de saúde mental é vista, principalmente, através da prescrição de medicamentos. Isso pode contribuir para o estigma, ao sugerir que a única forma válida de tratamento de problemas de saúde mental é através da intervenção médica, desconsiderando outras abordagens terapêuticas e holísticas.
  4. Redução da diversidade humana: A medicalização pode homogeneizar e patologizar uma ampla gama de comportamentos e experiências humanas, reduzindo a diversidade e a complexidade da experiência humana a uma lista de diagnósticos médicos. Isso pode contribuir para o estigma, ao sugerir que certos comportamentos ou traços de personalidade estão fora do espectro da normalidade, em vez de reconhecer a diversidade natural do comportamento humano.

É importante combater o estigma da saúde mental promovendo a conscientização, a educação e a compaixão. Isso envolve desafiar estereótipos prejudiciais, compartilhar histórias pessoais de superação, promover uma linguagem inclusiva e respeitosa e garantir o acesso equitativo aos serviços de saúde mental. Ao desmistificar a saúde mental e promover uma cultura de aceitação e apoio, podemos ajudar a reduzir o estigma e criar uma sociedade mais compassiva e inclusiva para todos.

Chamada à Ação

Quebrar o estigma em torno da saúde mental é essencial para promover uma sociedade mais inclusiva e solidária. Incentivamos a que todos se envolvam ativamente na promoção da conscientização e aceitação da saúde mental e se tornem defensores dessa causa vital.

Juntos, podemos criar um mundo onde o apoio emocional e a compreensão sejam acessíveis a todos.

Veja o filme “EuDouACara” onde um conjunto de pessoas incríveis que passaram por Ataques de pânico, dão a Cara pela Saúde Mental.