"Este é o momento para nos testarmos emocionalmente"

Desabafos de uma psicoterapeuta em Quarentena | Dia 20

«Amanhã é feriado!», para a grande a maioria de nós, nunca um feriado nos provocou tanta indiferença. O ano passado por esta altura, só pensávamos em descansar, em realizar a primeira viagem do ano, e/ou para quem está fora a trabalhar, regressar à sua terra natal e iniciar o seu merecido período de descanso. É incrível como tudo mudou. 

Semanas atrás, num dos meus desabafos, disse que estávamos a viver História e estamos mesmo! Esta fase das nossas vidas irá sempre ser recordada. Acredito até que as nossas conversas, terão como eixo temporal o próprio vírus, “antes / depois do Covid-19”. Na minha prática clínica, muitas vezes expliquei que o mais importante não é o “filme” das nossas vidas, mas sim as emoções que sentimos perante estas memórias e o que ainda sentimos quando recordamos as experiências. 

Em casa estamos seguros e protegidos, no entanto, a ameaça psicológica e emocional, de toda esta situação, paira sobre nós. As pessoas que já tinham perturbações emocionais sentem-se ainda mais sufocadas pelas suas emoções e quem estava aparentemente bem, começa a sentir uma certa instabilidade emocional. Foram tantas as vezes que defendi a importância das nossas emoções e da Saúde Mental que, neste momento, sinto que nem é necessário explicar o porquê de o ser. 

Este é o momento para nos testarmos emocionalmente. Percebermos até que ponto é que conseguimos estar bem connosco, sozinhos em casa, com as nossas emoções. Estes dias estranhos que estamos a viver, podem ser aproveitados para iniciar um processo de autorreflexão, perceber quem nós somos, quem gostaríamos de ser e qual o significado que queremos dar à nossa vida.

Abstraia-se destas frases clichês de: “sempre fui assim”; “desde que me conheço, sou assim”; ou “nunca vou mudar”, que servem de desculpas para fugir aos sentimentos. A nossa estrutura emocional não é rígida, conseguimos ser o que quisermos, no entanto, é preciso dedicação para conquistar o que se quer. 

Neste sentido, muito mais do que ocupar este tempo de isolamento a limpar a casa ou realizar atividades para não pensar, lanço-vos este desafio: pensem, pensem muito! E permitam-se fazer uma limpeza na vossa mente, viajar nas vossas memórias e perceber o que querem guardar e o que precisam de deitar fora. Arrumem as vossas gavetas emocionais para que, quando tudo isto acabar, consigam seguir a vossa vida de forma plena e assertiva. Se tiverem dificuldades em fazer isto sozinhos, volto a lembrar… estou aqui!