"E quando tudo isto acabar, vamos fazer mais memórias?"
Desabafos de uma psicoterapeuta em Quarentena | Dia 23
Hoje é 2ª feira de Páscoa.
Na minha cidade há uma tradição já muito antiga: rumar aos campos e bosques deste lindo litoral e passar o dia em família.
Confesso que já não o faço há imensos anos, mas de facto bateu uma saudade. Lembro-me de uma ou duas vezes em que foi a família toda: avós, tios, primos. Como devem imaginar foi uma festa. Brinquei imenso. Sempre gostei do cheiro a pinheiros, castanheiros e ainda hoje sempre que cheiro um eucalipto transporto-me para a minha infância, de muita brincadeira entre árvores, marias, malmequeres e no meio de muito verde!!
Lembro-me da azáfama dos preparativos: as arcas frigoríficas que saíam da garagem, as mantas e cobertores para estarmos confortáveis, da distribuição de quem levava o quê para todos comermos, o contar de mesas, cadeiras para saber se tínhamos para todos e claro a escolha de que jogos levar. Basicamente a 2ª feira de Páscoa era a antecipação de um Verão de piqueniques e praia que ainda estava muito longe de acontecer.
Ainda hoje quando passo por aquelas bouças (sim, é assim que dizemos) e sinto aquele cheiro, sou transportada para outra época, outros momentos. Lembro-me de todos aqueles com quem partilhei aqueles momentos e ainda estão comigo e também de todos os que já partiram.
Hoje, tal como nos últimos 20 anos não vou à bouça, não vou fazer piqueniques, mas cada vez que fecho os olhos sei que posso lá ir quando quiser e o meu peito transborda de Felicidade.
Nesta 2ª feira de Páscoa vamos todos aceitar que, para já, as memórias chegam. Para já as vídeo-chamadas chegam; as fotos das Páscoas, Verões e dos Natais passados chegam.
Chegam não só para aquecer-nos a alma, mas também para que ao olhar os olhos de quem amamos relembrarmos o Porquê de estarmos todos separados.
E quando tudo isto acabar, vamos fazer mais memórias?
Boa 2ª feira de Páscoa,
Joana