3º Período escolar à distância, em casa

Dra. Marta Calado

E assim começa o 3º Período...

O 3º período escolar arranca com alunos e professores em casa, arranca com as famílias em casa. Numa etapa de elevada estranheza, é a solução praticável para que a escola não feche e chegue a todos nas condições possíveis, promovendo a igualdade e a equidade.

Iniciamos a derradeira fase do ano letivo com cansaço e receio. Cansaço das implicações no corpo e na mente daquilo que um mês de isolamento social acarreta. Receio do processo ensino-aprendizagem realizado em condições ímpares, sem termo de comparação.

Insegurança e medo de contágio são dificuldades psicológicas que podem afetar, particularmente, os estudantes do 11º e do 12º ano, sujeitos a frequentar o espaço físico escolar. Este mesmo grupo, será também o mais afetado pela ansiedade académica decorrente do procedimento excecional de avaliação, sobretudo no que diz respeito aos exames finais. Medo em baixar a média, medo em ter más notas, medo em não compreender bem a matéria, medo em não conseguir terminar o secundário ou ingressar no ensino superior, medo do facilitismo na transmissão de conteúdos, dificuldade de concentração, são algumas das contrariedades que poderão explicar a mudança de comportamentos em quem regressa agora à escola. A ajuda psicológica deve ser procurada precocemente perante a manifestação continuada destas preocupações.

A importância das rotinas

Esta nova forma de estudo, em casa ou fora de casa mediante circunstâncias estritamente previstas, exige agora uma nova ginástica familiar: se ainda há pouco tempo atrás procurávamos deslindar rotinas que permitissem conjugar as diferentes necessidades de cada um dos elementos do agregado familiar, agora voltamos a reajustar novos horários e a criar uma nova dinâmica, dentro daquilo que aceitamos que já estava a funcionar bem. Horários para deitar e acordar, horários para aulas, horários para pausas, horários para elaboração de trabalhos terão agora de ser integrados às rotinas domésticas e de lazer, bem conhecidas nos últimos dias. Os mais novos terão que contar com a tolerância e paciência dos adultos, numa conduta entre o permissivo e o autoritário, até que todos se encontrem alinhados no seu regime de trabalho à distância, em simultâneo, em casa. Preencher todos os tempos ou procurar constantemente o que fazer a seguir, não é razoável para nenhuma das partes, vamos ter que nos reinventar outra vez e falar uns com os outros até encontramos uma harmonia saudável de convivência. Os filhos precisam de sentir que os pais sabem cuidar deles e não hesitam em tomar decisões. Mais importante do que o desempenho escolar do seu filho é o tempo de relação e a estabilidade emocional das pessoas e do ambiente ao seu redor, que irão promover a curiosidade, o entusiamo e a vontade de investir no conhecimento, mais formal ou informal, em síntese, o sucesso nos estudos nesta fase tão exigente.

A escola dentro de casa

Ter a escola dentro de casa, pela televisão, pode acarretar a existência de contratempos. Os pais não serão nunca substitutos dos professores. Exige-se aos pais uma sensatez ainda maior do que aquela que lhes foi exigida até agora, para que prestem o auxílio indispensável, sem descurar os seus próprios afazeres e autocuidados. Nada do que estamos a viver é normal e não precisamos de fingir que é. Proteger não é fingir que não se passa nada. A conjuntura de crise em que estamos inseridos, invariavelmente, revela o pior e o melhor de cada um de nós, mostra os nossos limites e potencialidades. Acostumados a assumir “nervos de aço”, é normal que os adultos se sintam inibidos em compartilhar aquilo que sentem nos momentos de maior saturação. É natural os pais e os filhos sentirem stress perante alguns fatores de novidade e incerteza que irão agora surgir neste 3º período letivo. Perante o surgimento de uma dificuldade maior, incomum e que permaneça no tempo, deverá consultar ajuda técnica especializada.

Estarmos juntos, em função de uma causa tão simples mas tão determinante como “sobrevivermos ou não”, ajuda-nos a valorizar, agradecer, reconhecer e pedir desculpa.