Que hábitos tóxicos é comum
as pessoas terem?

Dra. Ana Evaristo

É comum as pessoas terem o hábito tóxico de reclamar.

Quando reclamamos de tudo e mais alguma coisa que nos acontece na vida, estamos apenas focados no negativo. Olhamos a vida apenas numa perspetiva, numa direção, olhamos apenas para o negativo e nem nos apercebemos que muitas vezes temos soluções à volta.

Reclamar é o oposto de agradecer, de ser grato mesmo quando as coisas não correm como esperamos. Ao aceitarmos as dificuldades e procurarmos o lado bom e positivo das coisas, mais facilmente nos focamos nas soluções de forma a enfrentar os momentos difíceis e com isso navegamos melhor pelos desafios da vida. Viver com gratidão, aceitar a vida como ela é e afastar a reclamação, torna tudo mais leve.

É comum as pessoas terem o hábito tóxico de comparação.

A comparação é extremamente tóxica. Quando nos comparamos com os outros, com o que os outros têm, fazem, conseguem, estamos apenas a assumir que os outros têm uma vida “mais fácil”, têm “mais sorte”, mas também desconhecemos as suas lutas e dificuldades. Regra geral, esta comparação é no sentido de nos inferiorizarmos, de diminuirmos as nossas capacidades, o nosso valor. E aí o sentimento de angústia e por vezes vitimização surge em força. Associado ainda ao sentimento de “não sou suficiente”, que nos mina a autoestima e a autoconfiança.

Hoje em dia com as redes sociais a “tentação” da comparação aumentou mais ainda, onde estilos de vida, viagens, bens, beleza, são constantemente expostos com o objetivo de obter likes e aprovação dos outros, aumentando as frustrações de quem entra no jogo das comparações e se posiciona nesse lugar inferior.

Viver bem connosco mesmos significa sabermos que somos únicos, incomparáveis, sabendo que cada um de nós tem o seu caminho, com suas lutas e dificuldades, mas também com suas bênçãos e vitórias. É aceitar que cada um de nós tem o poder de mudar a sua vida, se nos focarmos nos nossos próprios objetivos e trabalharmos nesse sentido, sem olhar para a relva do vizinho, porque toda a mudança começa de dentro para fora.

É comum as pessoas terem o hábito tóxico de sofrer por antecipação.

Viver em antecipação do que vem a seguir, do que vai acontecer, do que PODE acontecer, é o oposto de viver o momento, viver o que de facto ESTÁ a acontecer. Sofrer por antecipação significa viver com ansiedade, sentir medo do porvir, criar cenários na mente de tudo o que pode correr mal, sentir as sensações físicas negativas desses pensamentos, desses cenários irreais, e ficar preso a esse estado emocional, que nos impede de viver verdadeiramente o momento, o “aqui e agora” que na realidade é o que temos.

Saber viver no presente, percebendo o que está ao nosso alcance fazer “aqui e agora” traz-nos uma maior sensação de controlo e uma nova tranquilidade por estarmos a desfrutar do momento, sabendo que estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance fazer. O passado já foi, o futuro ainda não chegou, apenas temos o presente. Vivê-lo de forma consciente, estando verdadeiramente “presentes” em todos os momentos da nossa vida, é o que nos vai permitir um dia “olhar para trás” na vida e sentir que vivemos TUDO o que havia para VIVER.

É comum as pessoas terem o hábito tóxico de ficar preso ao passado.

Viver preso ao passado é mais uma vez o oposto de viver o momento, viver o presente. Nem sempre é fácil deixar o passado para trás e muitas vezes carregamos o peso da mágoa das coisas que nos aconteceram, carregamos o trauma, a dor. E trazemos isso para a vida no presente. O que nos limita os recursos emocionais para lidar e enfrentar os desafios que agora se nos apresentam. E com maior facilidade, sofrendo por essas mesmas memórias, entramos em angústia.

Aceitar o que foi, é muito importante para avançarmos com a vida para a frente. Libertarmo-nos do peso do passado, sermos capazes de perdoar, desapegar, aceitar que o que foi, foi, perceber que o passado não nos define e que podemos hoje ser uma melhor versão de nós mesmos, pois tudo o que nos aconteceu serve para nos ajudar a crescer e aprender a não cometer os mesmos erros. Quando perdoamos, libertamo-nos das pessoas e das mágoas do passado, ficamos livres, em paz.

É comum as pessoas terem o hábito tóxico de pensar demasiado.

Pensar demasiado em tudo é parente do sofrer por antecipação. Quem pensa demasiado em tudo, tem sempre a cabeça “cheia” de “pré-ocupações”, ou seja, tem a mente ocupada antes do tempo com coisas que naquele momento não consegue resolver ou a ruminar algo do passado que também já não consegue resolver porque já foi. Pensar demasiado é um grande desgaste energético, que nos leva a um cansaço mental muito grande, que nos limita o foco e a concentração nas tarefas do dia a dia, impedindo-nos de “estar presentes”.

Aceitar mais uma vez que apenas controlamos o que está ao nosso alcance, procurando adiar os pensamentos carregados de “pré-ocupações”, usando a racionalidade para voltar para o “aqui e agora” pois é só aí que conseguimos viver e sentir algum controlo. Exige treino mental e muito foco, mas ajuda muito a sentirmo-nos mais seguros e tranquilos.

É comum as pessoas terem o hábito tóxico de má higiene de sono.

Ter uma má higiene de sono significa ter más rotinas de sono, que vão impactar na qualidade do descanso e na nossa saúde. Quando comemos e bebemos muito à noite, quando ficamos agarrados aos ecrãs antes de dormir, quando nos vamos deitar em horários diferentes todas as noites, quando levamos as “pré-ocupações” connosco para a cama, acabamos por interferir nos nossos ritmos biológicos e isso traz consequências tais como: cansaço, irritabilidade, falta de paciência, falta de concentração e foco, por vezes mais apetite e menos boa disposição.

Ter uma boa higiene de sono significa ter rotinas saudáveis antes de ir dormir pois um sono reparador é fundamental para que vivamos bem, com saúde, com energia e boa disposição para enfrentarmos os desafios do dia a dia.

A chave da nossa felicidade está dentro de nós.

Tal como permitimos a criação de hábitos tóxicos na nossa vida, podemos criar hábitos saudáveis, que nos beneficiem a saúde mental e atuem como ferramentas para levarmos a vida de uma forma mais leve, mais prazerosa, com boa disposição e alegria. A escolha de como vivenciar estes hábitos é nossa.