Pais menos acelerados, famílias mais felizes
Neste ritmo de vida alucinante que levamos, deverão ser as crianças a acelerar ou os pais a abrandar?
Quantas birras, choros e frustrações (delas e nossas) poderiam ser evitados se nós, adultos, estivéssemos mais atentos aos sinais e tentássemos compreender e comunicar, em vez de somente ameaçar, impor ou repreender? Quantos castigos ou “palmadinhas” poderiam ser substituídas, por conversas emocionais, em que o foco fosse o “porquê” daquele comportamento da criança, em vez da anulação imediata do mesmo? E quantas birras poderiam ser facilmente interrompidas com um simples abraço apertado e com a criação de um espaço favorável à expressão das emoções negativas? Na maioria das vezes bastaria substituir um “Chega! Estás a esticar a corda”, por um “O que se passa contigo hoje? Conta-me lá…”
E que pai, mãe nunca disse: “Vamos! Despacha-te!” , “Não tenho o tempo todo” , “Deixa-te de fitas” , “Não são horas para ficares a pensar no brinquedo que queres levar no carro, vá!” (Sim! Como mãe, também faço parte desses pais!)
Por vezes, o ritmo da vida que levamos é tão acelerado e exigente que nos esquecemos que, por trás de cada birra ou amuo, há uma emoção mal manifestada. Às vezes vale a pena colocar o despertador uns minutos mais cedo e começar o dia com abraços, brincadeiras e sorrisos, em vez de obrigarmos os nossos filhos a engolir o pequeno-almoço e a vestir a roupa com a mesma rapidez que o homem-aranha muda de fato e empoleira a sua pose de super-herói!
Será que nos esquecemos assim tão rápido de que não se trata da incapacidade das crianças em acompanharem o ritmo desvairado dos pais, mas sim delas adorarem explorar e descobrir o meio ambiente à sua volta e disso ocupar um algum tempo do seu dia?
Será que nós, adultos, não deveríamos respeitar esse tempo para exploração? E se aprendêssemos com eles a vibrar alegremente com o vislumbrar de um avião a cruzar o céu, com os mergulhos da criança na banheira que molham os pais e acionam verdadeiras gargalhadas, com o cheiro a natal em cada luzinha que a criança aponta com o dedo, com o barulho do comboio a fazer vibrar o chão, com a côr do semáforo na fila de trânsito, com a comida inventada que os nossos filhos nos oferecem na esperança dos pais fingirem comê-la e entrarem naquele jogo de faz-de-conta que eles tanto adoram?
Ora claramente, a vida está acelerada demais e os pais sentem-se culpados e perdidos na gestão do seu tempo. Neste desafio constante para se ser o melhor em casa, no trabalho, perante os amigos, perante os educadores e os outros pais, perante os pediatras e a sociedade em geral…, parece que nada pode falhar e que aquela imagem de super pais, super mulheres/maridos, super profissionais deverá ser mantida de forma imaculada.
Acredito que, quanto menos perfeitos quisermos ser, mais perfeitos seremos enquanto pais, companheiros e profissionais. Aceitarmos os nossos limites, abrandarmos o ritmo, ouvirmos mais, sentirmos mais e robotizarmos menos, pedirmos desculpa às nossas crianças quando nos deixamos levar pelo stress, falharmos à frente dos nossos filhos, pedirmos um favor ao invés de lhes dar ordens, são excelentes formas de educar e incutir valores!
Deste modo, as crianças aprendem desde cedo a lidar positivamente com o erro, a desfrutar mais, a expressar sentimentos sem reservas, a cooperar em vez de obedecer. Afinal a vida não é uma tropa!
Em simultâneo, os pais também deveriam agradecer aos seus filhos o facto deles serem peritos em interromper tarefas e em prolongar o tempo que necessitam para saborear a informação que lhes chega através dos sentidos. Afinal, são apenas oportunidades cedidas pelos nossos “tesouros”, nas quais os pais se podem reensinar a viver em plenitude e a reencontrar a verdadeira felicidade, em vez de se limitarem a sobreviver e a repetir ações, como se a vida se tratasse de uma espécie de linha de montagem de fábrica ou de um filme repetido que insistimos em ver na televisão vezes e vezes a fio…
Que venham as birras, que venham os “beicinhos” dos nossos filhos! Precisamos disso para abrandarmos e relembrarmos o nosso verdadeiro papel neste mundo desconsertado: trabalharmos diariamente para sermos famílias mais felizes, menos aceleradas, mais equilibradas e mais atentas àqueles pequenos pormenores que nos arrancam verdadeiros sorrisos e que fazem de nós os melhores pais imperfeitos que os nossos filhos poderiam ter!