Os Santos Populares voltaram e a minha cabeça não pára...

Dra. Isabel Gomes

Dois anos de foco no perigo, nos contágios, no vírus, na doença, nos internamentos, nos mortos.

Todas as semanas a tentarmos perceber quais os nossos conhecidos que cederam ao vírus.

Todos os dias a ouvirmos notícias com dados atualizados.

Até chegar mais perto, até sermos nós. Quem terá ainda escapado ileso?

Durante muito tempo a sensação de insegurança, de falta de controlo e, com ela, o crescer da ansiedade.

Para muitos a preocupação foi ficando excessiva, colocando todo o resto que é a vida mais longe e com menor importância. O afastamento de todos foi ficando para alguns.

O medo afasta-nos para nos proteger do perigo, mas quando o perigo é visto nos outros condiciona-nos ao isolamento. E isolados não partilhamos a vida, não sentimos a alegria e baixamos a imunidade, aquela que os afetos e o prazer robustecem.

Isolados perdemos o ritmo da vida. E é nesse embalo conjunto que (re) aprendemos a olhar, a perceber, a contextualizar os perigos. 

Haverá sempre doenças, debilidades e morte, por isso, haverá sempre ansiedade, importa é que não bloqueie a própria vida.

Na balança dos dias temos que ir dando mais peso à confiança do que ao medo. Só assim é que reaprendemos a ser ao nosso modo, nos comportamentos que nos identificavam, nas vontades que tínhamos, no prazer que encontrávamos. Só assim é que poderemos ir à rua, aos churrascos, às festas. Só assim poderemos parar à conversa, a ler os lábios e expressões, a tentarmos cumprimentos.

Confiar talvez seja sair de todas as imprevisibilidades, de todos os “ses” e manter o foco no que podemos controlar, no seguir recomendações que nos fazem sentido. No cuidar da saúde, mais do que fugir da doença.

O medo faz e fará parte de nós, tal como a ansiedade. É necessário reaprender a viver com ela numa outra dimensão, arriscando velhos hábitos, ao nosso ritmo, mantendo parte da tranquilidade.

A alegria também faz parte de nós e reequilibra-nos, mantém o balanço certo.

Paralisados na preocupação, nos pensamentos negativos de contágio, nas sensações de ansiedade não há balanço, não há equilíbrio, não há saúde. Assim não estamos como todos como no início. Assim não vamos. Mas será que não queremos ir?

Não importa se é de martelo na mão, com cheiro a sardinha, a ver o fogo, a lançar balões. O que importa é ir ao encontro. Vamos?