"O que estamos a viver, surge como uma necessidade urgente de mudarmos"

Desabafos de uma psicoterapeuta em Quarentena | Dia 8

Caminhar tem sido muito terapêutico para mim, particularmente, nos últimos tempos. Gostaria de partilhar os meus pensamentos e imagens desta manhã.

Hoje, no meu passeio matinal, pensei no quão útil e interessante seria, para tornar as cidades mais sustentáveis e solidárias, as autarquias criarem espaços para plantar árvores de fruto.

Para além de se envolver as comunidades num bem comum, todos poderiam observar e contemplar a beleza que está em todo o processo desde a plantação, ao crescimento das flores que mais tarde darão frutos. Frutos esses que poderiam vir a ser colhidos de forma equilibrada por todos, desde os que mais precisam até mesmo aos que menos precisam.

Esse contacto com a natureza e o facto de haver um propósito comum, iriam com certeza contribuir para manter estados de calma, de contemplação, de gestão de momentos de Ansiedade e prevenir estados de medo/pânico e Depressão.

Apesar de, nesta fase, estarmos privados do contacto social, podemos sonhar e projetar cenários futuros e criar nas nossas mentes imagens geradoras de paz!

Na minha opinião, o que estamos a viver, surge como uma necessidade urgente de mudarmos a nossa perspetiva da vida e da forma como a podemos ou queremos viver.

De facto, os recursos que sempre nos foram apresentados como “garantidos”, mostram-se agora em escassez, pela forma abusiva como os fomos utilizando.

Acredito que esta fase sombria, tem um lado de profunda luz e tomada de consciência, não só em termos globais, mas também em termos individuais e de comunidades.

Gosto muito de refletir sobre o que sinto e o que se passa à minha volta e, em Fevereiro, mês em que se celebra o Amor, escrevi o seguinte texto que me faz hoje ainda mais sentido:

Viver devagar parece soar estranho, parece soar a preguiça,

Viver devagar parece sinal de pouca capacidade para viver rápido,

Viver devagar é desafiante, nos dias de hoje, apesar de ser algo que deveria ser “o normal”,

Viver devagar exige momentos de silêncio, de solidão, de escuta dos lados mais sombrios, de sentir a dor das feridas ainda por cicatrizar,

Viver devagar intensifica as alegrias e as tristezas, as memórias de paz e de revolta,

Viver devagar pode ser assustador pela perceção que se tem de quem somos, do que queremos, do que nos faz bem, do que nos tira do sério, do que nos sufoca,

Viver devagar permite sentir o corpo e a mente a dizer o que precisam para estarem em equilíbrio, em cada momento e em cada dia,

Viver devagar melhora a respiração, a clareza e o bem estar geral,

Viver devagar permite-nos fazer escolhas mais conscientes sobre a nossa alimentação e sobre a qualidade das nossas relações,

Viver devagar ensina-nos a desfrutar melhor da companhia de quem mais gostamos, dos locais que visitamos, das experiências que vivemos.

Vamos viver devagar?

Acredito que esta seria uma grande mudança e necessária para vivermos melhor neste que é o nosso Mundo!