"Desconfine" a criança que há em si

Dra. Marta Calado

Rebuçados, gomas, gelado.

Batatas fritas, bolo de chocolate, pipocas, sumo de fruta.

Super-herói, princesa, pássaro falante, dragão voador, magia que faz e desfaz o que era, e já não é.

Um balão na mão, uma bola no pé, uma boneca no colo, a cabeça ao vento.

O que faz uma criança verdadeiramente feliz é sentir a boca doce, o coração aconchegado, o corpo cansado de brincadeira e a mente repleta de sonhos.

É através dos adultos que as crianças conhecem o mundo e o sentem como seguro ou perigoso. Neste Dia da Criança pós-confinamento ofereça às crianças aquilo que verdadeiramente importa, sem máscaras: tempo para conversar sobre tudo e sobre nada, observar e ouvir de olhos e ouvidos bem abertos, dar atenção àquilo que elas estão a fazer e a dizer, mostrar curiosidade para as cativar e carinho para as elevar. Proteger não é suficiente, amar não basta. Ofereça a liberdade que precisam para crescerem e evoluírem de forma saudável. Hoje, mais do que antes, brincar é o trabalho mais sério das crianças. Na rua, no parque, na terra, na areia, é ao explorar livremente que aprendem a conhecer, a descobrir, a imaginar, é ao sujar, cantar, dançar, que sabem como lidar com o stress do seu pequeno mundo interior.

Mesmo fora de casa, ‘criança’ continua a ser ‘casa’ que se constrói e defende por dentro. Toda a sociedade tem o dever de zelar pelo bem-estar e cumprimento dos direitos da criança. Por hoje, e por todos os restantes dias, debruce-se, aproxime-se e abrace o seu filho, o seu sobrinho, o seu aluno, o seu vizinho, a sua criança interior.

O Dia da Criança não existe só para se oferecer presentes aos mais novos.

Ainda se recorda daquilo que era realmente importante para si quando era criança? Este dia é uma excelente oportunidade para nos lembrarmos do nosso lado mais infantil, simples e genuíno, de voltarmos a rir e a brincar, sem nos preocuparmos com o que os outros vão dizer ou pensar. Tenha a ousadia de mergulhar em si e reencontrar aquela leveza e alegria, e trazer cá para fora esse seu lado que pode ainda se manter em confinamento, dentro de si.