As dificuldades de ser pai, homem, amigo e trabalhador

Dra. Maria Pedro Sobral

Atualmente, 12% dos agregados familiares em Portugal são famílias monoparentais. Dessas, 18% são monoparentais masculinas. Se é verdade que a proporção de homens solteiros, divorciados ou viúvos a cuidar sozinhos dos filhos ainda é incomparável com a de mulheres, também é verdade que este número de “pais solteiros” continua em crescimento – e é por isso que, aproveitando este Dia do Pai, nos debruçamos um pouco sobre as questões psicológicas desta moderna realidade. 

Ainda é, infelizmente, inegável que as mulheres estão mais desprotegidas socialmente do que os homens nos seus papéis e que estes ainda detêm um leque de privilégios que se esperam divididos entre os géneros tão brevemente quanto possível. No entanto, estes pais podem ser desafiados por algumas questões particulares: As respostas sociais, tais como grupos de apoio, concentram-se (por uma questão ainda de prevalência) mais nas mães solteiras, divorciadas ou viúvas do que nos pais homens com o mesmo papel, o que pode levar a uma baixa percepção de suporte por parte do homem, assim como a um maior isolamento social – por exemplo. Também no trabalho os homens podem enfrentar algum estigma social relacionado com a assunção de que será a mulher a lidar com eventuais necessidades das crianças em detrimento do trabalho, pelo que os pais solteiros podem experienciar sentimentos de incumprimento ou de inadequação. Outro exemplo são as dificuldades na expressão emocional: por ainda se inserirem numa cultura que ainda castra emocionalmente o homem (que se espera “forte”), o pai solteiro pode experienciar uma sobrecarga de emoções não processadas que pode desaguar em sintomatologia ansiosa e/ou depressiva, ou mesmo em Burnout. 

No entanto, e muito embora estes desafios particulares poderem representar dificuldades de adaptação para estes homens, não há razão para não podermos acreditar que as famílias monoparentais masculinas não serão tão saudáveis como qualquer outra composição familiar. Os estudos científicos têm demonstrado consistentemente que o desenvolvimento psicológico saudável das crianças depende mais de fatores como o amor, o apoio, o estilo de educação e envolvimento parental do que do número de pais ou do seu género.

Com isto em mente, e para lidar com esses desafios da monoparentalidade que, de facto, existem, os pais solteiros devem estabelecer uma rede familiar ou social de apoio estável e consistente; ser transparentes no seu local de trabalho procurando o equilíbrio saudável trabalho-família; ser honestos consigo mesmos, admitindo os seus próprios limites, dizendo “não” ou pedindo ajuda sempre que necessário; ter momentos só para si e aprender a cuidar da sua saúde emocional de forma a manter a estrutura para lidar com o stress e garantir que possam fornecer o melhor suporte possível para seus filhos. E devem, fundamentalmente, lembrar-se que ser “Super-Pai” é um mito – e que filhos felizes são, primeira e invariavelmente, filhos de pais felizes. A todas as famílias, um feliz Dia do Pai!