"Apoiem-se uns aos outros e se sentirem alguma dificuldade, procurem ajuda"

Desabafos de uma psicoterapeuta em Quarentena | Dia 17

Numa altura em que se fomenta cada vez mais a necessidade de construir relacionamentos de qualidade, para o bem da nossa saúde mental e física, como é exemplo o “efeito aldeia”, onde a máxima refere que ter amigos, família e vizinhos por perto é, além de prazeroso, ótimo para a saúde*, pedem-nos, então,  um distânciamento social, portanto, que nos afastemos das pessoas. 

Nestes tempos de isolamento sem contactos com o mundo exterior, pelo menos como habitualmente os conhecemos, tenho dado por mim a pensar no futuro das relações sociais. Acredito que dois cenários possíveis se insurjam deste confinamento. 

Sabemos que quando sujeitos a uma limitação social e/ou individual prolongada no tempo, o ser humano manifesta um grande desejo de liberdade e descompressão, pelo que acredito, no fim deste período de isolamento e retirada das ordens de distanciamento social, a maioria das pessoas terá vontade de estar próxima dos outros. Irão insurgir-se máximas de prazer, de vida e, em muitos casos, alguns excessos (Ouço através de colegas e pacientes os planos das festas que se irão realizar após tudo isto passar). As pessoas irão celebrar, conversar olhos nos olhos, abraçar-se, beber e brindar, deixando de lado os cumprimentos com o pé ou com o cotovelo, voltando aos velhos hábitos sociais.

No entanto, não podemos esquecer que depois desta experiência de medo, da doença e da morte, onde novas formas de socialização à distância surgiram, manifestar-se-á, também, um aumento das problemáticas associadas às relações sociais. Infelizmente, em pessoas mais obsessivas, solitárias e fóbicas, entre muitas outras, a tendência para o isolamento social, o sair o menos possível e o falar com os outros apenas através das redes sociais, irá crescer. Não são raras as pessoas que manifestam quadros patológicos deste géreno. Alguns agravar-se-ão e outros surgirão!

Nestes cenários, que acredito serem iminentes, enquanto pessoa e profissional de saúde mental, cabe-me deixar uma mensagem de esperança, apoiem-se uns aos outros, e se sentirem alguma dificuldade procurem ajuda, lembrem-se de #Ficaremcasa, mas que também #Estamostodosjuntos.

Protejam-se e até já.

*(proposto pela psicóloga canadense Susan Pinker no livro “O efeito aldeia: como o contato presencial pode nos deixar mais saudáveis e felizes”, (em tradução livre), publicado em 2014