A mentira compulsiva é sinal
de algum transtorno?

Dra. Tânia Annes

Todos nós mentimos, a mentira ocasional é natural, é uma ação comum na vida das pessoas. Desde a infância, as mentiras apresentam-se como uma forma de proteção ou de evitar punições. Mas quando é que mentir se torna um problema? 

Há indivíduos que mentem com demasiada frequência, sobre todo e qualquer assunto, conhecidos como mentirosos compulsivos. O mentiroso compulsivo/patológico ou mitómano é alguém que mente por hábito.

De pequenas mentiras com menos gravidade a omissões ou invenções deliberadas, a mentira pode assumir muitas formas.

Como funciona a mentira do mentiroso compulsivo?

Os mentirosos compulsivos mentem frequentemente e sem necessidade aparente. As mentiras têm na sua génese, uma certa grandiosidade e, são muitas vezes, impossíveis de serem verificadas. São por vezes, muito detalhadas e extremamente convincentes (por exemplo: são muitas vezes os heróis ou vítimas da história).

Um mentiroso patológico conta mentiras e histórias que se situam entre a mentira consciente e a ilusão. E, por vezes, acreditam mesmo nas suas próprias mentiras. Isto porque podem não reconhecer a diferença entre a realidade e a ficção, depois de algum tempo.

Os mentirosos patológicos também tendem a ser artistas naturais. São eloquentes e sabem como envolver-se com os outros ao comunicar. São habitualmente, criativos, originais e pensadores rápidos que geralmente não mostram sinais comuns de mentira, como longas pausas ou evitamento do contato ocular. Quando questionados, podem falar muito sem nunca serem específicos ou responder à pergunta.

Existe em muitos casos uma ausência de controlo sobre a sua compulsão em mentir, o que pode levar a sérios problemas nos seus relacionamentos pessoais e profissionais. Pode ser frustrante lidar com alguém que muitas vezes esconde a verdade. Os laços de confiança quebrados podem ser difíceis de reconstruir.

Os mentirosos compulsivos podem ou não ter uma perturbação mental?

A mentira compulsiva/patológica não é uma perturbação mental, e, portanto, não possui um protocolo formal de tratamento. Geralmente, observa-se que pessoas com perturbação por uso de substâncias, perturbação de hiperatividade e défice de atenção (PHDA), perturbação bipolar e perturbação de personalidade borderline, tendem a recorrer com maior frequência à mentira compulsiva. 

A mentira compulsiva pode ser um sintoma de uma perturbação mental, mas não deve, isoladamente, ser interpretado como um sinal de perturbação ou doença mental.

Lidar com um mentiroso compulsivo pode ser extremamente desafiador.

A mentira é algo difícil de aceitar. Como tal, conviver com um mentiroso compulsivo pode tornar-se mesmo um desafio. Aqui ficam algumas dicas para lidar com pessoas com este tipo de característica:

– Não tente confrontá-los diretamente sobre as suas mentiras, ou argumentar sobre as mesmas. Isso pode levá-los a mentir ainda mais ou a tornarem-se defensivos e hostis.

– Estabeleça limites claros sobre o comportamento que espera deles. Mantenha uma postura firme e consistente. 

– Mantenha um diálogo aberto e honesto com a pessoa, expressando as suas preocupações e sentimentos sobre o seu comportamento compulsivo. 

– Incentive-os a procurar ajuda profissional. Muitas vezes a mentira compulsiva faz parte do quadro de uma perturbação mental, que pode ser tratada. A Psicoterapia pode ajudar a identificar padrões e crenças disfuncionais e a aumentar o controlo dos impulsos.

– Embora possa ser difícil lidar com um mentiroso compulsivo, é possível estabelecer limites claros e incentivar à procura de ajuda profissional. Com o tratamento adequado, e o reconhecimento do próprio sobre o seu problema, estes indivíduos podem aprender a controlar a sua tendência para mentir e reconstruir relacionamentos saudáveis e honestos.