Quando o "e se" limita por completo uma vida

Prisioneiro dos pensamentos "e se"

A ansiedade pode manifestar-se de formas inesperadas, transformando situações quotidianas em verdadeiros pesadelos. Para José, tudo começou com um pensamento aparentemente inofensivo que rapidamente se transformou numa espiral de medo.

"Eu comecei a interiorizar aquilo e a colocar-me no lugar deles. E se for eu? Aquilo de repente fez-me pensar nisso e comecei a ficar cada vez mais ansioso, mesmo em pânico."

Este padrão de pensamento, conhecido como "e se", é uma característica comum da ansiedade. A pessoa fica presa num ciclo de preocupação com cenários improváveis, mas aterrorizantes.

O momento do colapso

O momento decisivo na experiência de José ocorreu quando ele estava com amigos e, de repente, sentiu-se sobrecarregado pela ansiedade, chegando ao ponto de desmaiar.

"Olhava para lá e só estava a ver o meu carro, não me tinha sentado nem nada, e de repente cambaleei um bocado sobre o meu carro e caí para trás, assim para o lado. Lembro-me que desmaiei."

Este episódio traumático marcou o início de um período difícil na vida de José, ironicamente quando ele estava a retomar a sua vida social.

Quando o medo da doença se torna a própria doença

O que desencadeou a crise de ansiedade de José foi uma conversa sobre saúde que o levou a temer pela sua própria vida, um fenómeno conhecido como hipocondria.

"Estávamos a falar desta vez do pai do meu colega, que tinha tido um aneurisma... É que o que eu sentia era o medo de morrer a qualquer instante, era um ataque de pânico."

Este medo súbito levou José a procurar ajuda médica imediatamente, preocupado que pudesse estar a sofrer de alguma condição grave.

"Eu fiquei logo a pensar: 'Há alguma coisa que não está bem comigo, porque isto não é normal'. E fui logo a correr para o médico e fiz muitos exames, fui ao médico de família, fiz tudo, e estava tudo bem."

Quando o corpo fala o que a mente teme

Apesar dos resultados médicos não indicarem qualquer problema físico, José continuou a sentir-se mal. Os sintomas persistiram, afetando significativamente a sua qualidade de vida.

"Nesse tempo a seguir ao desmaio andava sempre cansado, tinha medo de voltar àquele sítio porque só de pensar naquilo começava a sentir-me desorientado e tudo."

Foi então que José decidiu consultar uma psicóloga, embora inicialmente tivesse algumas reservas sobre procurar ajuda para a saúde mental.

O início da compreensão

A psicóloga diagnosticou José com ansiedade, explicando que os seus sintomas eram de natureza psicológica. Este diagnóstico foi um primeiro passo importante para a sua recuperação.

"A psicóloga disse-me que era tudo ansiedade, que era tudo psicológico, e as coisas foram acalmando. Nunca ficaram totalmente bem, mas foram melhorando."

No entanto, José continuou a experimentar vários sintomas de ansiedade que afetavam diferentes aspectos da sua vida, desde o sono até às suas interações sociais.

Comportamentos de evitamento

Um aspeto particularmente perturbador da ansiedade de José era a forma como ela o levava a evitar certas situações e lugares, especialmente o local onde tinha desmaiado.

"E quando era para ir ao sítio, às vezes inventava desculpas. Dizia 'Olha, não vou' sem nunca explicar o verdadeiro motivo. Assim evitava. Nunca cheguei a isolar-me muito, do tipo precisar de ficar em casa, mas tentava sempre encontrar caminhos alternativos para evitar ficar ali exposto."

A ansiedade também levou José a pesquisar constantemente sobre sintomas médicos na internet, o que geralmente agravava as suas preocupações em vez de aliviá-las.

Em busca de uma solução definitiva

Apesar de ter consultado uma psicóloga, José sentiu que precisava de uma abordagem diferente para lidar com a sua ansiedade persistente.

"Há um ano atrás, pensei: 'Ok, já recorri a uma psicóloga e também a medicação'. Pensei: 'Ok, ela ajudou-me até certo ponto, não tem culpa, mas queria algo diferente desta vez, para não andar sempre com este receio de que a qualquer momento tudo possa voltar'."

Foi então que José decidiu procurar ajuda na Clínica da Mente. Inicialmente, ele pensava que o seu caso era único, mas rapidamente percebeu que a ansiedade é um problema comum que pode ser tratado eficazmente.

O caminho para a recuperação

Gradualmente, José começou a ganhar confiança e a acreditar no tratamento. Um marco importante na sua recuperação foi quando ele conseguiu voltar ao local onde tinha desmaiado sem sentir ansiedade.

"Quando ganhei confiança e comecei a acreditar no tratamento, a verdade é que, aos poucos, sem me aperceber, numa semana voltei ao sítio onde tinha desmaiado e pensei 'Lá vou eu, estou tranquilo, não se passa nada', e comecei a ir sem receios."

Embora José reconheça que ainda tem uma tendência natural para o nervosismo, ele aprendeu a lidar melhor com as situações que anteriormente o deixavam ansioso.

Além da ansiedade: descobrindo a assertividade

Além de ajudá-lo a superar a ansiedade, o tratamento também permitiu que José se tornasse mais assertivo, algo que sempre foi um desafio para ele.

"Eu sempre tive um defeito: é verdade, não conseguia dizer que não, e isso para mim sempre foi um problema. Havia muitas coisas que me pediam e eu não conseguia recusar. Acabava sempre por fazer coisas contrariado, mas para não ficar mal com ninguém."

Esta nova assertividade trouxe a José uma sensação de controlo sobre a sua própria vida, contribuindo significativamente para o seu bem-estar geral.

"Comecei a valorizar mais a minha palavra e a minha pessoa, o que me faz ser mais feliz porque a minha vida está mais como eu quero. Está mais sob o meu controlo e não tanto nas mãos dos outros."