Depressão: Doença Física ou Doença Psicológica?

A palavra Depressão deriva do latim deprimere, verbo que significa “prensar, esmagar, afundar”. Assim, compreende-se que a palavra Depressão define o estado que muitas vezes sentimos quando o nosso corpo se esmaga e se aperta em si próprio. É um estado provocado pela angústia que sentimos, quando pensamos e estamos em situações na vida que nos perturbam e entristecem.

A Depressão é, por isso, um estado introspetivo em que sentimos o corpo a afundar-se numa angústia forte e limitadora do nosso bem-estar e não uma doença do nosso cérebro. Não podemos utilizar a palavra doença para caracterizar este estado, porque todos compreendemos que a condição de doença acontece quando um órgão do nosso corpo não esta a funcionar bem, por ação de vírus, bactérias, entre outras diversas patologias e disfunções físicas. A palavra doença descreve normalmente a falta de saúde física.

Assim, utilizamos a expressão Doença Psicológica, para descrever a este estado emocional que nos retira a saúde mental, que tanto precisamos para nos sentir-mos bem e em harmonia com o nosso corpo.

Quando estamos deprimidos não temos uma doença física porque todos os nossos órgãos funcionam normalmente. Não existe nenhum desequilíbrio químico no cérebro que crie este estado, o que existe é um estado que, esse sim, provoca alterações químicas em todo o nosso corpo. Quando estamos tristes a nossa estrutura bioquímica muda, mas quando estamos contentes também, portanto se quando estamos contentes não nos consideramos doentes, porque nos consideramos doentes quando estamos tristes?

A Depressão é um estado de tristeza?

Sim. Muitas vezes, vivemos experiências que nos trazem dor e a essa dor chamamos angústia. Sentimos a angústia sempre que nos deparamos com experiências que nos quebram o estado de motivação, como ofensas, incompreensões, violências, entre tantas circunstâncias que nos retiram a paz interior, a alegria e a motivação para continuarmos o nosso caminho. Muitas vezes, sofremos com experiências que colidem com os nossos sonhos, com as nossas ambições, que prejudicam a nossa autoestima e confiança nas nossas capacidades.

Experiências como traumas, violência infantil, bullying, divórcios, maus tratos diversos, podem ser vividos com uma intensidade tal que se torna difícil ultrapassar a dor que elas trazem.

Muitos dizem que a Depressão é diferente da tristeza, porque quem dela sofre, sofre há demasiado tempo por causa de experiências comuns como a morte de alguém ou maus tratos na infância… Mas quem é que tem o poder de avaliar a forma como cada pessoa vive essas mesmas experiências?

O estado de tristeza não tem limites de tempo. É errado definir prazos para a tristeza, é errado definir-se que o luto é um estado de tristeza que não deve ultrapassar os 15 dias, pois deve durar o tempo que a pessoa precisar para ressignificar a dor da perda.

Quando recordamos as experiências do passado, conseguimos recordar também as suas sensações. É por isso que, quando recordamos os maus momentos, também revivemos a angústia que sentimos no passado, e reviver a angústia é voltar a senti-la. Assim, chamamos de emoções às recordações das sensações que foram vividas no passado.

Recordamos tudo o que nos é importante, e a dor é importante. Recordamos e sentimos constantemente a dor do nosso passado que ainda valorizamos, ao qual ainda damos importância.

Revivemos, portanto, emoções, como o medo, a mágoa, a tristeza, a revolta, que, ao longo do tempo, destroem a nossa qualidade de vida porque estamos continuamente a senti-las, limitando-nos na nossa liberdade de sermos felizes. Estas emoções perturbam o nosso bem-estar e deprimem-nos. As memórias podem ser muito fortes e, por isso, não nos conseguimos libertar emocionalmente delas. Vivemos, assim, muito tempo com este peso, com estas sensações e sentimentos, dia após dia, acumulando emoções negativas, o que nos leva a um estado de absoluta incapacidade para lidar com este estado emocional negativo. Quando chegamos a este estado emocional deprimido, ficamos sem recursos mentais, sem energia para estabelecermos os nossos objetivos, para vivermos de uma forma feliz.

As pessoas que não conseguem ultrapassar as dificuldades do passado não são as mais fracas, mas sim as que mais sentiram a dor ou o medo dessas experiências, por pequenas que sejam aos olhos dos outros.

Porque tomamos medicação para a Depressão se esta não é uma doença?

Quando sofremos com o estado depressivo, os sintomas podem ser tão severos que, sem saída e sem melhor alternativa, as pessoas procuram na medicina convencional o alívio desses mesmos sintomas. A indústria farmacêutica, ao longo do tempo, tem desenvolvido drogas que procuram suavizar os sintomas destes estados de tristeza, e os médicos, que estudam o corpo humano e o seu funcionamento biológico, perante a queixa dos sintomas que as pessoas relatam, servem-se da medicação para ajudar as pessoas que os procuram.

Mas este processo de cura dos sintomas é como querer eliminar uma silva retirando-lhes as folhas, quando o que se deve fazer é cortar-lhe as raízes. Assim, para tratar o sofrimento que o estado depressivo provoca, devemos encontrar as causas e não os sintomas.

Os sintomas mais comuns do estado depressivo são:

  • Angústia e tristeza;
  • Fadiga, cansaço e perda de energia;
  • Sentimentos de inutilidade, de falta de confiança e de auto-estima;
  • Falta ou excesso de apetite;
  • Perturbação do sono;
  • Preocupações recorrentes;
  • Desinteresse e apatia;
  • Diminuição do desejo sexual;
  • Irritabilidade;
  • Manifestação de sintomas físicos, como dores musculares, dores abdominais, entre outros.

É possível estarmos deprimidos sem que haja causas do passado?

Não. A maioria das pessoas que sofrem de Depressão pode não reconhecer imediatamente que eventos da sua vida estão a provocar tal pressão emocional, mas existem sempre causas. As causas são sempre experiências que provocam traumas psicológicos. Um trauma psicológico é um dano provocado por um evento que o ser humano percebe como demasiado perturbador do seu bem-estar, quer seja pelo medo que o evento produz, quer seja por outra emoção como a tristeza.

Em casos menos frequentes, as pessoas podem desenvolver um Distúrbio Cíclico da Angústia (DCA): um distúrbio emocional que origina um estado extremo de angústia súbita sem que as pessoas o associem a experiências ou memórias passadas. Mas, mesmo nestas situações menos frequentes, as causas podem ser encontradas em más associações mentais ocorridas em eventos passados.

O Suicídio é uma saída?

Nos casos extremos de tristeza, a angústia sentida também é extrema e a dor da morte aproxima-se. A dor da morte é uma expressão de quem sofre uma pressão física tão forte que os obriga a um pensamento de libertação: o suicídio. Aqui, o pensamento sobre o suicídio é uma forma de libertação inconsciente, pois a dor é tão forte e interior que lhes “suga” a alma e só um pensamento lhes ocorre: a fuga… sair do corpo que se afunda…

Na maioria dos casos de tentativas de suicídio, as pessoas relatam que o que os levou a cometer tal ato foi mais a pressão física da angústia que sentiam do que as dificuldades que enfrentam no seu dia-a-dia. Acredita-se que 80% dos suicídios e as tentativas são provocados pelo Distúrbio Cíclico da Angústia, onde os ataques súbitos de angústia provocam estados físicos, e por consequência, estados mentais insuportáveis.

Outras pessoas entram em espirais de angústia quando, por várias razões, nomeadamente do seu ambiente social e económico, não encontram uma forma de alívio para as pressões mentais, para alívio das suas preocupações e medos. Nesta espiral de angústia sem alívio, a morte pode parecer ser a única saída.

É possível sair do estado depressivo?

Sim. É possível viver uma vida inteira a sentir a dor da memória, uma memória que nos fere, mas também é possível deixar de a sentir.

A ajuda da psicoterapia é essencial pela rapidez no processo de saída desse estado. O psicólogo que utiliza modelos psicoterapêuticos mais avançados, como o modelo de intervenção psicoterapêutica HBM, ou mesmo a terapia cognitiva-comportamental, pode ajudar as pessoas que sofrem a treinar a sua mente para desvalorizar os eventos traumáticos. A psicoterapia ajuda as pessoas a retirarem a carga emotiva das suas memórias, pela ressignificação mental que fará, na qual a pessoa que sofre dará um novo significado mental às experiências vividas, deixando de sofrer com o passado e voltará a encontrar, dentro de si, todos os seus recursos físicos e mentais para enfrentar com vontade o seu caminho diário em busca dos seus sonhos e felicidade.

Identifica-se com alguns destes sintomas?