Telmo: Quando Sentir Se Desenquadrado Se Torna Recorrente

O ponto de viragem: o reconhecimento do isolamento

O momento em que Telmo percebeu que algo não estava bem aconteceu num simples jantar com os pais. Estava a conversar quando disse, de forma quase casual, algo que o fez ouvir-se a si mesmo de outra maneira:

"Estávamos a jantar e eu disse-lhes: 'Já passaram quatro anos de curso e eu não tenho um único amigo na faculdade.'"

A frase ficou no ar. Dita assim, soava leve. Mas por dentro, Telmo carregava um peso. Enquanto via os seus amigos de outros contextos a criar laços, a integrar-se, a viver a vida académica, ele sentia-se completamente deslocado.

"Os meus outros amigos davam-se bem com os colegas da faculdade, faziam coisas, conviviam… e eu, nada."

Não era só a faculdade. Telmo começou a perceber que esta sensação de estar à margem era um padrão de vida.

"Estar desenquadrado num sítio é algo muito recorrente na minha vida. Percebi que isto não podia continuar. Eu tenho que me dar bem com as pessoas. Não posso sentir-me à parte em todo o lado."

Essa foi a primeira rutura. Reconhecer que o problema não estava só fora — talvez estivesse dentro. E era altura de fazer alguma coisa.

O inimigo invisível: desconfiança e paranoia

Com o tempo, Telmo começou a reconhecer que o que o afastava dos outros não era só timidez ou introversão. Era uma espécie de desconfiança constante, uma voz que o fazia ver perigo em todo o lado.

"Às vezes achava que estava toda a gente contra mim. Mesmo quem não me queria mal. Eu achava que toda a gente me queria fazer mal, que me queriam passar a perna."

Este estado de alerta constante transformava-se em comportamentos defensivos. Respostas bruscas, atitudes hostis, um escudo emocional.

"Respondia torto, era hostil, às vezes mesmo mau com os outros. Mas não era por maldade. Era porque não estava bem. Agora percebo isso. Quando estamos num lugar melhor, não somos assim."

Era um ciclo difícil de quebrar. A desconfiança levava ao afastamento. O afastamento, à solidão. A solidão, à confirmação interna de que "ninguém gostava dele". Mas Telmo começou a abrir os olhos. Começou a ver que aquilo não era quem ele era — era um reflexo de como se sentia.

O corpo também falava

Os sinais não estavam só na mente. O corpo de Telmo também gritava. A energia desaparecia. As tarefas mais simples tornavam-se montanhas.

"O corpo não quer fazer nada. Eu tinha inércia. Não me levantava da cama. Estava sempre cansado, em baixo, sem motivação."

Aquilo que por fora podia parecer preguiça ou desinteresse era, na verdade, exaustão emocional.

"Essa foi a chave: não ter vontade de sair da cama. Isso foi o maior sinal de que eu não estava bem."

Foi aí que decidiu pedir ajuda. Não como quem desiste — mas como quem decide lutar com as armas certas.

"Percebi que não conseguia ultrapassar isto sozinho. Então decidi pedir ajuda."

Aprender a vencer-se

Telmo começou o seu percurso terapêutico com uma ideia clara: o maior obstáculo era ele próprio. Não porque fosse "má pessoa" ou "errado", mas porque havia padrões que precisava de ultrapassar.

"Eu sou assim, de natureza. Mas não preciso de continuar a ser assim. Posso tentar vencer-me. E foi isso que fiz."

Essa tomada de consciência deu-lhe direção. E deu-lhe persistência.

"É isso que pretendo fazer a vida toda."

O tratamento foi mais do que um espaço de conversa. Foi um alívio, uma libertação real.

"Saíamos das sessões relaxados. Sentíamos que deixávamos ali a bagagem."

Não era como desabafar com um amigo. Era diferente.

"Com amigos falamos, sim. Mas a bagagem continuava lá. Aqui, saía mesmo."

E isso fez toda a diferença.

Quem é o Telmo hoje?

A transformação não foi apenas interna. Foi visível. Telmo, que antes não falava com ninguém na faculdade, passou a ter amigos. E mais do que isso, construiu uma relação.

"Eu não falava com ninguém na faculdade. Hoje tenho um grupo de amigos. E até arranjei namorada. Uma coisa que nunca pensei conseguir, muito menos lá dentro."

Começou também a gostar da sua imagem, a cuidar de si. Descobriu paixões novas.

"Tinha um problema com a minha imagem. Não gostava de como era. Hoje não é assim. Comecei a fazer ginásio. Descobri que gosto. Vou continuar."

A autoestima melhorou, a confiança cresceu. Mas, acima de tudo, sente-se mais inteiro.

"Hoje sou uma pessoa mais motivada. Tenho noção de que sou capaz. Que o caminho é difícil, mas possível. E agora estou rodeado de pessoas que gostam de mim."

A mensagem final: saúde mental é a chave

Telmo termina com uma reflexão que é, ao mesmo tempo, um conselho e uma lição de vida:

"Se estivermos mal, não vamos a lado nenhum. Temos que ter motivação para chegar onde queremos. Se não resolvemos os nossos problemas, eles vão prender-nos."

E mesmo quando a vida parece confortável na dor, é preciso coragem para sair do ciclo.

"Às vezes, ficamos no ciclo mau porque é o que conhecemos. Mas temos que ter um plano para sair de lá. E a única forma é com saúde mental. Com a cabeça no sítio."

Telmo não romantiza a recuperação. Admite que houve recaídas. Que houve dias maus. Mas o que mudou foi que, agora, sabe para onde ir nesses dias.

"Vinha abaixo, sim. Mas sabia para onde ir. Sabia que tinha alguém com quem podia contar."

Hoje, sabe que não é invencível. Mas também sabe que não está sozinho.

"Às vezes precisamos de ajuda. Nenhum de nós é o super-homem. Mas com a ajuda certa, conseguimos escalar a montanha. E foi isso que me aconteceu."

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Telmo: Quando sentir-se desenquadrado se torna recorrente | Eu Dou a Cara